quinta-feira, 22 de maio de 2008
Bairro Alto Groove
Corpos flutuando
Qual água de cristal.
Foi lento, tudo muito lento...
Não havia perdão em nós.
Os tecidos roçagando
Os sapatos que deslizavam
Voltas e voltas sem retorno,
A intensidade consumida;
O adeus das despedidas.
Fui inocente ao relembrar
Tola por ainda acreditar
As memórias não chegam
E a devassidão já é velha;
Quero sorver de novo a juventude
Oh! Quão ingénua.
Julgava ter em mim
Aquele esplendor
Tomara-me por eterna.
Já não há perdão,
Nem tão pouco havia
Resta-me a luxúria,
Lembranças de espectáculo
Para a longevidade,
Até ao fim dos pensamentos
Sou bailarina de sangue,
Aclamada.
Vem até mim,
Uma última vez
Põe a tocar a roda dos tormentos
Dançar, talvez, até...
Não haver mais fôlego.
Deu-se à corda do gramaphone,
Hoje...
A noite canta.
terça-feira, 13 de maio de 2008
Candelabros de Bolso
Naquele comboio de esperança
Rasguei o coração,
Vagão meio aberto
O acidente que foi notícia.
De ouvidos fechados
Cérebro por explodir,
Sinto-me presa
Vejo-me oca
Cambaleando ferozmente
Como luna-ática baloiçando;
Tactei-o porcaria
Cheiro pudor.
Queria desejar libertar-me
Assegurar um final feliz
Mas tudo é escuro...
Negro de desilusão.
As caixas que me comprimem
Cubículo, acima de cubículo
Descida, sobre descida
Enterrada para os vivos
Morta em suspiros;
Valerá a pena
Ter esperança no que for?
Dia após dia em prisão.
Pianos, contrabaixos e guitarras
Sons de sabedoria
Sons de fim
Sons do amanhã,
A manhã que tarda a vir
Ou que nunca virá.
Um, dois ou três relâmpagos
Chuva na cara que não molha
Cheiros que não chegam;
Eu e tu,
Tu e eu,
Nós os dois e mais um:
Somos tantos
Somos nenhuns,
Almas de muitos
Nas catacumbas de reis.
Pego no meu leve corpo
Levo-me mais além
Suja, comprometida
Por histórias sombrias;
De farrapos esfarrapada
Em espera,
D'um pêndulo que tarda a contar
As últimas certezas
Mais umas quantas tonturas.
Basta de amor
Deixemos para mais tarde
Suposto turpor que te atinge.
Dá-me um final por mim
Empresta-me algum abrigo,
Não cortes a pouca vida que há
Gémea alma inoportuna.
O sadismo em ti tão sádico
Perturba-me os fios já tão desgastados;
Em meu vil, sereno canto
Compromete-te com distância
domingo, 11 de maio de 2008
Zaratustra falou
Acoçado por isto
Reacções por que me tormentam
Reza o dia em que tudo fuja
E o cálice envenenado estala
Escorre-me o calafrio pelo corpo
Ah - ocorre a espera
Infinitamente tudo será
Seja a minha vida que escurece
Ou o brilho que me fecha o ar
O mundo que foge da minha consciência
E mal consigo parar
Corre, e tudo corre
Avalanche de licores visíveis
Momentos que foram vertidos
Ensurdecedores sons sorridentes
A loucura que trespassa celestialmente
Imaculada raiva doutrina
Vai uma, duas, três de seguida
Hoje há dogmas, amanhâ...
Talvez acabe o dia
Tenho um gato como fachada
Esguio e melindroso
Dá-me o leite porque anseio
O sopro que me rouba o suspiro
Dá-me a faca mais uma vez
Permite-me rasgar o mal
Corta uma, duas, três de seguida
Acalma a ebulição que me ferve
Manhã, gloriosa noite
Beija o mar
E chora-lhe o salgado
Grita-se a esses longos,
Grandes fiordes - deuses de gelo
E quebra-se além o ar
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Naoko
Gosto de desenhar palavras
Sejam grandes ou pequenas
De esplendor,
Ou de inaúdito brilho
Aqueles borrões
Contendo salpicos
Sarapintaram a minha alma
Sem dó ou piedade
Eu sei que escreverei as linhas
E irei esborratar as caras
Insinuar os tons por que me apaixonei
Vou perder-me nas folhas
Desorientar-me nos números
Tenho que parar - sim parar!
Inspira o cheiro
Desenha até mais não
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Flor, flora
Formiga
Árvore, folha
Botão
Um irmão que joga à bola
Uma prima que brinca com o João
Saias que rodam
Copos que partem
Conversas faladas
Pomares de ideias maduras
Bibes sujos
Edifícos por limpar
Bêbados de rua
Meretrizes por beijar
Corpos fingidos
Males a chorar
Mortes em funerais
Folhas por varrer
Ventos que se arrastam
Baloiços a enferrujar
Mamíferos que se amam
Botas a chiar
Exércitos que marcham
Saltatrizes baloiçando
O gato que dorme
E o João que chora
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