sábado, 27 de outubro de 2007

Aleluias


Já eram alturas de viver,
De amar e de sofrer!
Quero abrir portas,
Horizontes salutar,
Quero ir e voltar,
Correr e dançar!
Ver luas de gente,
Navegar mares diferentes.
Quero voar e cantar,
Sentir e saudar!
Ser e desejar liberade,
A pura realidade!
Vem comigo, vem até mim,
Vamos à Cidade Perdida,
Rir, festejar, extasiar.
Vem amigo, imaginar até fartar,
Rodopiar uma e outra vez mais!
Ver chuva cintilante,
Banho de água fria cortante,
Pura chama ardente,
De alma berrante!
Chorar dor e perfeição,
Rir alegria e aberração.
Vamos sorver palavras
E entornar as quadras!
Viver é ser louco e excêntrico ser,
Mas agora, chiu!
Pára para olhar.
Sentados de calmos risos,
A fitar parede branca esta;
Que infinito mais não é,
Do que a soma de vários riscos!
Vejo o futuro, presente e passado
Os Dragões que fugiram,
Os Monges que mugiam,
O Gato que aplaudia,
A possilidade e refutabilidade.
Vá, não me olhes assim,
Ri-te por favor!
Dá alegria por seres,
Afinal somos arte e paixão,
Lixo e podridão!
Orgulha-te e ergue-te,
Sê quem não finges ser!
Olha à tua volta e escuta,
Procuras-te em vão,
E nem querer te desejas!
Anda comigo e vem,
Vamos ao circo, abre a porta!
Dá os passos do teu caminho,
Assobia comigo,
Vamos ver o fim enquanto podemos!
Mexe-te, mais rápido!
Corre e tapa os ouvidos,
Ensurcedor silêncio enclausurante!
Acabou-se o tempo.
Vou voar sem ti,
Cantar como ninguém,
Dançar feliz,
Amar até ao além!
Sem desculpas e remorsos,
Eu vivi!
Sou louco desvairado,
Estou louco, desenfreado!
Tenho-me a mim, a ti e a mais ninguém
Fora multidão e meia ,
Que pouco mais tem de plateia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Tragédias Gregas


Sobre perspectivas audazes
Foi assim que vi,
As árvores mais não eram
E as folhas para longe voaram
Era tudo miríade de cores
Um mar de fogo em chamas.
E desta chama ardente
Com o vento uivante
O outono aqui nasceu; o jardim morreu
E por todo o jardim gritava
Que nem uma louca berrava:
Ninfa do jardim e da luz,
Pelos demais uma lembrança de vida!
Porque não ouvistes estes meus apelos,
Eu que nunca seria esquecida?
Senhora, minha amada
Será que não me ouvistes,
Qual a razão da tua ira?
O doce jardim que me roubastes,
Meus amores que envenenastes!
Em solidão e tristezas choro
Pelos verdes filhos que me deixastes morrer
E do iníco o fim,
A juventude que te apoderastes
Ai de minha beleza,
Vede, olhai para mim!
Corpo decrépito, em decomposição.
O Outuno fizestes nascer
Para mim verdes morrer!
Sois injusta e cruel minha amada,
Com teus truques e esquemas
Que de agora padecem meus dilemas
Porquê o meu amor por ti,

Lealdade tão pura?
Se por mais um dos teus filhos,
Matastes-me apenas.
Oiço passos, esses tão tenebrosos
Fostes tu malvada senhora,
Que a ele me fizestes buscar?
Rogo-te, mil perdões, rezo-te!
Não mandes vil Fauno devorar-me
Outono prevelacerá,
E com ele meu jardim murchará;
Outrora rejubiloso éden,
No silêncio se encontrará.
Amada minha, poupa-me à morte
Sê virtuosa como me ensinastes!
Em lágrimas vãs chorei por ti,
E no teu peito jamais desvanecerão.
Avicena eu sou,
Que da minha morte vi nascer
Fogoso Outono de gélidos ventos.
E com doce esperança
Enquanto vil Fausto se deleita
Não te esqueças amada,
Que por teu amor e desencanto
Eu, por ti, faleci.

domingo, 14 de outubro de 2007

Babilónia


O que mais receamos é a página em branco;
Invade-nos o medo ao ser como ela
Meras conchas de nada
E assim olhamos, longamente fixando
Estas inúmeras linhas por preencher
Linhas que mais não são,

Do que profundo horror imaginário
São os nossos fanstasmas e pesadelos,
Os diários de revolução.
Durante os dias que passam
Evitamos o confronto
A batalha inevitável
O herói por morrer e lenda por nascer.
E ainda que, estoicamente nos debatemos
Estas páginas acabam por vencer
Por meses afim que,
As nossas palavras ficam por dizer
As mentiras por se contar
As verdades por se pensar
Em sono profundo o mundo entrará
Qual adormecida beleza,

Por monstros e selvas guardado.
Todo o esforço em vão
Aquelas que foram vontades inabaláveis
Numa folha branca em que ninguém ousa
Mas onde corajosamente tentamos
Como muitos antes de nós
De cidades queimadas,
E multidões torturadas,
Para que finalmente preenchida a folha fosse
E assim o prédio ruíu
A história surgiu
Palavra após outra
Entre suspiros de épocas, maldições de eras
Quais desejos em espera.
E o som destas guerras
Graves contrabaixos gritantes
Sons de um senhor aprisionado,
Que abala o tempo em cada momento
Encantando-me qual mágico sem pena
E aqui eu escrevo,
Escrava da minha mente
Serva destas páginas
Hipnotizada pelo seu vazio
Esse tão parecido com o meu
Tempestades a que fugimos,
Reboliços de dor e paixão
Uma folha em branco,
Que mais não é o branco da sua folha
Essa mesmo que é a minha tradução
E quando dois mais dois são quatro
O meu vazio fica por preencher.
E dia após dia
Sinto o cravar da vida em mim
Qual caneta que escreve
E no medo que me tenho
Escrevo em mim própria
Para ocupar o vazio que sinto
E nesta forma de concluir
Que de mim não sai
Igual repetição de vezes e vezes sem conta
Espero um dia escrever numa folha branca
Tudo o que escreves em ti