sábado, 21 de junho de 2008


De trapos feita

Pela maré febril da vida,
Escrevi estas palavras
Somente para as riscar

Pronomes, verbos
Talvez alguns nomes;
Cessei por completo a sua existência

A tinta que fora
Escritos que não o são.
Terão um céu para estarem tão sós!

De espírito deposto na cidade,
Em todos os segundos já mortas

As frases aqui compostas
As demais e outras poucas
Retirando cada um do seu espaço
Pelo que significa ou representa,
Nenhuma encanta
Nem tão pouco me seduz

Seja o escritor que perdeu o brilho
Ou a escrita sem alma
Tudo se presente deslocado
Quando o poeta,
Não é poeta para ele próprio

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cowboys Jazz


Senhor não me obrigue
Tenha algum dó,
Não me martirize!
Faltei aos prometidos
Não cumpri os prazos,
Roubei-lhe o tempo
A caneta e o papel
- Não dei conta de tal!

Piedade!
É assim que lhe chamam.
Acredite que não foi por mal,
A inspiração ainda não chegou
Está só um pouco atrasada;
Eu vou conseguir. Por si,
Acabarei as cartas
E a caneta é tão bela...
Oh!O papel tão caro

Tem que compreender
Foram os violinos do diabo,
Sussurrando ao meu ouvido
Palavra, atrás de palavra
Olhe as folhas!
Todas esborratadas,
Vede, eu acabei
Todas as suas cartas!

Fui em frente com a promessa,
Só uma semana atrasado.
Sim foi a inspiração,
Apanhou o comboio errado!
E o diabo pobre coitado,
Obrigou-me a escrever
Veja lá, acelerado.

Compreenda senhor,
Eu ainda sou o seu escritor;
Não o era para enganar
E o que roubei,
Agora devolvo.
Olhe, olhe!
Todas as suas cartas:
Poemas, contos, folhetos de amor.

Não me tome por louco
Dê-me o pão de hoje!
Estou só um pouco nervoso,
As insónias têm-me acometido.
Tudo por si...
Oh!Não me queime na praça
Deixai os meus papéis!
Leia, leia!
É tudo para si.

A loucura persegue-me
Febril febre do dia,
O coração esvai-se em tinta
Já não sou mais poeta.