sábado, 29 de dezembro de 2007

Idem


Multidões,
Pontos ocos de vontades.
Mal vêem, mal sentem:
Frutos de um passado,
Maduros de um presente,
Podres de um futuro incerto.
Multidões,
Que vês tu nelas?
És de um amor inexistente
Calor enregelado.
E eu grito numa dor sufocante
Ausência de pudor em ti
Sou torre observante,
Qual fantasma intermitente;
Sou bússola sem valor
Compasso de uma vida, pendulo hesitante.
Uma pessoa e mais a sua gente:
Encontros, safanões
Desesperos e procuras
Vacinas de tempos,
Curas imperfeitas;
De corações moles, bruscos
Macilentos e viscosos
Multidões de adjectivos que procuram:
Estradas sem fim,
Caminhos imperfeitos,
Ilusões injuriadas.
Quero o sol e lua,
O universo rasurado
Sim, multidões
Entre elas, sem elas
Alegorias fantásticas!
Imperfeitas visões
Receptáculo defeituoso,
Orgão desfeito
Identidade perdida e, assim sou
Homem corrompido pela solidão
Amargura doente
Multidões,
Seres que nada me dizem.
Amores, almas bolorentas
És um ponto,
Nada mais que isso
Sem conteúdo ou concha;
Tu mais uma multidão
O centro do nada
Fria, imutável, resplandecente
És o grito de todos os teus filhos
Mãe de crimes e inocências
És a vida que odeio,
Transparência que abomino
De cinzento profundo,
Saudável colorido.
Boa noite, cidade
Bem vinda ao meu mundo

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

À Beira-Mar


Estou dividida
E para sempre indecisa.
Vivo em opostos
Para a eternidade enloquecida
Quero bradar silêncios
Como gritos murmurar
Em opostos concebida;
Em meia perfeição jamais percebida
Sou o copo por encher
A água a transbordar
Não sei que faça de minha quietude
Se para sempre quero viajar
Sou louco sem tino
Ajuízada por demais
Quero o meu canto saudar
Entre multidões vociferar
Alma, fantasma, vislumbre
Ser atormentado entre água e fogo
Senhor Peixes ouve,
Leão Senhor fala.
Escuto ondas, vagas de memória
Sou incandescente, futura erupção
Incontrolável coisa indomável
Esquizofrenia de vida!
Morte e vida por fases
Morre ele, vive ela;
Suicída-se ela, renasce ele.
Copos constantes
Fogos fátuos intermitentes
Vivo de opostos
Razões sem lógica:
Dócil gato medroso,
Eriçado felino astuto.
Tenho luas por agir
Mentes por conseguir
Mulher, homem
Homem, mulher
Quem é quem,
E quem virá?
Sou doido desvairado
Confusa temerária
Sou sentido de impossibilidade
Equação sem solução
De espera a calma,
Caos por advir
Gritemos profundos silêncios
Clamar sanidade!
Vivo da cidade,
Do campo e mentalidade
Quero saber as verdades
Quem é quem,
E quem serei!
Calma ou desvario,
Lógica ou ambiguidade?
Entres peças que encaixam
Há mais sobras que vontades
Um Dó Li Tá,
Serei livre ou fico como está?
Um dia governarei o mundo
E serei um ser só
Opostos deixarei de ter
E a minha vida cessa de o ser
Em vida e morte, um e outro
Apenas um dia se saberá
Em fúnebre funeral funesto
Qual prevalecerá

sábado, 10 de novembro de 2007

Hemisférios


De passagem na travessa,
Puta de vida esta!
Somos esquizofrénicos constantes,
Temos o mundo em instantes!

Perdida de amores
Por almas proibidas
Choro em profundos clamores
Para caras perdidas.

Falo de surrealismos,
Ninguém me entende.
Atiro-me para abismos,
Suicídio valente!

Todos os dias sou mágoa,
Felicidade e fantasia.
Tal copo sem água;
Falta-me calor e a tua companhia.

Crio mundos,
Vómitos de palavras!
Vivo para absurdos,
Mortes por meias facas.

Desejo sonhos por clamar
A tua presença para amar
Irrealidades bucólicas
Estes fados por desejar.

Sou homem incerto,
De comportamento incompleto;
Altivo e distante,
Verdadeiro gelo cortante.

Oportunidade vãs vivi,
Loucuras, paixões suplicantes
Nestas palavras me perdi;
Graças a suspiros distantes.

Sou corpo, vómito e cadáver
Hilariante lixo de cidade;
Vítima de fama e crueldade,
Olho com desdém a realidade!

E em tempos amada;
Por entre ruas de metal e frio,
Criei esperanças no vazio
Na espera da tua chegada.

Em barcos redondos vou,
Preso por entre terras;
Assobio e já cá estou
Louco às avessas!

Quis manter-te em presença,
Ser louca como tu.
Estamos os dois em desavença,
Pois falta-te amor e subtileza.

De meu nome Pierre,
Conjunto de palavras em espirítos
Alma de loucura e desvarios,
Alguma vez jamais visto!

Leonor suspeita,
De teus gritos farta.
Um pouco de juízo desejo
Este amor de prejuízo basta!

Conversas de pouca dura
Confrontações constantes
Somos dois num espaço só,
Para sempre unidos por um nó.

sábado, 27 de outubro de 2007

Aleluias


Já eram alturas de viver,
De amar e de sofrer!
Quero abrir portas,
Horizontes salutar,
Quero ir e voltar,
Correr e dançar!
Ver luas de gente,
Navegar mares diferentes.
Quero voar e cantar,
Sentir e saudar!
Ser e desejar liberade,
A pura realidade!
Vem comigo, vem até mim,
Vamos à Cidade Perdida,
Rir, festejar, extasiar.
Vem amigo, imaginar até fartar,
Rodopiar uma e outra vez mais!
Ver chuva cintilante,
Banho de água fria cortante,
Pura chama ardente,
De alma berrante!
Chorar dor e perfeição,
Rir alegria e aberração.
Vamos sorver palavras
E entornar as quadras!
Viver é ser louco e excêntrico ser,
Mas agora, chiu!
Pára para olhar.
Sentados de calmos risos,
A fitar parede branca esta;
Que infinito mais não é,
Do que a soma de vários riscos!
Vejo o futuro, presente e passado
Os Dragões que fugiram,
Os Monges que mugiam,
O Gato que aplaudia,
A possilidade e refutabilidade.
Vá, não me olhes assim,
Ri-te por favor!
Dá alegria por seres,
Afinal somos arte e paixão,
Lixo e podridão!
Orgulha-te e ergue-te,
Sê quem não finges ser!
Olha à tua volta e escuta,
Procuras-te em vão,
E nem querer te desejas!
Anda comigo e vem,
Vamos ao circo, abre a porta!
Dá os passos do teu caminho,
Assobia comigo,
Vamos ver o fim enquanto podemos!
Mexe-te, mais rápido!
Corre e tapa os ouvidos,
Ensurcedor silêncio enclausurante!
Acabou-se o tempo.
Vou voar sem ti,
Cantar como ninguém,
Dançar feliz,
Amar até ao além!
Sem desculpas e remorsos,
Eu vivi!
Sou louco desvairado,
Estou louco, desenfreado!
Tenho-me a mim, a ti e a mais ninguém
Fora multidão e meia ,
Que pouco mais tem de plateia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Tragédias Gregas


Sobre perspectivas audazes
Foi assim que vi,
As árvores mais não eram
E as folhas para longe voaram
Era tudo miríade de cores
Um mar de fogo em chamas.
E desta chama ardente
Com o vento uivante
O outono aqui nasceu; o jardim morreu
E por todo o jardim gritava
Que nem uma louca berrava:
Ninfa do jardim e da luz,
Pelos demais uma lembrança de vida!
Porque não ouvistes estes meus apelos,
Eu que nunca seria esquecida?
Senhora, minha amada
Será que não me ouvistes,
Qual a razão da tua ira?
O doce jardim que me roubastes,
Meus amores que envenenastes!
Em solidão e tristezas choro
Pelos verdes filhos que me deixastes morrer
E do iníco o fim,
A juventude que te apoderastes
Ai de minha beleza,
Vede, olhai para mim!
Corpo decrépito, em decomposição.
O Outuno fizestes nascer
Para mim verdes morrer!
Sois injusta e cruel minha amada,
Com teus truques e esquemas
Que de agora padecem meus dilemas
Porquê o meu amor por ti,

Lealdade tão pura?
Se por mais um dos teus filhos,
Matastes-me apenas.
Oiço passos, esses tão tenebrosos
Fostes tu malvada senhora,
Que a ele me fizestes buscar?
Rogo-te, mil perdões, rezo-te!
Não mandes vil Fauno devorar-me
Outono prevelacerá,
E com ele meu jardim murchará;
Outrora rejubiloso éden,
No silêncio se encontrará.
Amada minha, poupa-me à morte
Sê virtuosa como me ensinastes!
Em lágrimas vãs chorei por ti,
E no teu peito jamais desvanecerão.
Avicena eu sou,
Que da minha morte vi nascer
Fogoso Outono de gélidos ventos.
E com doce esperança
Enquanto vil Fausto se deleita
Não te esqueças amada,
Que por teu amor e desencanto
Eu, por ti, faleci.

domingo, 14 de outubro de 2007

Babilónia


O que mais receamos é a página em branco;
Invade-nos o medo ao ser como ela
Meras conchas de nada
E assim olhamos, longamente fixando
Estas inúmeras linhas por preencher
Linhas que mais não são,

Do que profundo horror imaginário
São os nossos fanstasmas e pesadelos,
Os diários de revolução.
Durante os dias que passam
Evitamos o confronto
A batalha inevitável
O herói por morrer e lenda por nascer.
E ainda que, estoicamente nos debatemos
Estas páginas acabam por vencer
Por meses afim que,
As nossas palavras ficam por dizer
As mentiras por se contar
As verdades por se pensar
Em sono profundo o mundo entrará
Qual adormecida beleza,

Por monstros e selvas guardado.
Todo o esforço em vão
Aquelas que foram vontades inabaláveis
Numa folha branca em que ninguém ousa
Mas onde corajosamente tentamos
Como muitos antes de nós
De cidades queimadas,
E multidões torturadas,
Para que finalmente preenchida a folha fosse
E assim o prédio ruíu
A história surgiu
Palavra após outra
Entre suspiros de épocas, maldições de eras
Quais desejos em espera.
E o som destas guerras
Graves contrabaixos gritantes
Sons de um senhor aprisionado,
Que abala o tempo em cada momento
Encantando-me qual mágico sem pena
E aqui eu escrevo,
Escrava da minha mente
Serva destas páginas
Hipnotizada pelo seu vazio
Esse tão parecido com o meu
Tempestades a que fugimos,
Reboliços de dor e paixão
Uma folha em branco,
Que mais não é o branco da sua folha
Essa mesmo que é a minha tradução
E quando dois mais dois são quatro
O meu vazio fica por preencher.
E dia após dia
Sinto o cravar da vida em mim
Qual caneta que escreve
E no medo que me tenho
Escrevo em mim própria
Para ocupar o vazio que sinto
E nesta forma de concluir
Que de mim não sai
Igual repetição de vezes e vezes sem conta
Espero um dia escrever numa folha branca
Tudo o que escreves em ti

domingo, 23 de setembro de 2007

Poetas Loucos


Todos os dias somos máscaras
Impossibilidades de verdade
Tudo é o que não parece
Pois escondemo-nos da realidade
Podemos até querer, desejar
Mas apenas à Lua nos revelamos
Monstros vestidos de mentiras
Centauros de faces brilhantes
Pelo teatro conhecidos
Cativamos pela ilusão
E dela não desejamos realmente um fim
Encantados antes pela sua sedução
De braços cruzados ficamos
E pouco ou mais ousamos
Ouvimos histórias sem fim
E assim nunca nos revoltamos
Temos medo de nós próprios
De doces olhos implorantes
Pois por detrás de tal olhar
Encontra-se monstro uivante
Tal é a habituação
Que por anos a fio deixamos
A vida acaba por tornar conta de nós
E de normal a loucos ficamos
Damos graças à norma, à moral e ao tabu
Mas com eles comuns nos tornamos
Meros homens trovantes
De nenhunma glória importante
Tornamo-nos monstros do medo
Heróis de todos os dias
Fugimos de individualidade
A causa da nossa condenação
Eu digo que sou estranho,
E por isso não quero sofrer!
Eu afirmo que sou louco,
E por isso não quero falecer!
Tenho crenças por gritar
Quebrar muros de terror
Parar com o fingimento
Este governo absoluto
E com discurso político acabo
Este com o intuito de mudar o mundo
Promessa tal que nunca cumprirei
Por ser um contra tudo
Mas estes são meros apelos
Para uma coragem sobrenatural
Uma de tal proporções
Que do céu o inferno se elevará
Serei o autor de tais utopias
Governador de loucura
O Grostesco de todos os pesadelos
Aqueles por quem todos se arrepiam
Mata-me agora!
Neste momento de fraqueza
É a tua última oportunidade
Senão ganharei concerteza
Hoje a palavra é minha
E o sonho realidade
Agora sou livre
Imortal para toda a posterioridade!

sábado, 1 de setembro de 2007

Histórias de embalar


De voz forte e sentida
Ouvia-se bem no fundo
Lá na feira colorida
Homem forte e sizudo
Queria falar de maravilhas passadas
Contos ilusórios de perdição
Histórias de amor trágico
Aquelas que nos tocam no coração
Muita gente reunia
Hábil homem orador
Miríade de pessoas e alegria
Prontos para mais ardor
Na jaula rugia a fera
Na corda dançava a saltatriz
Espectáculo desta era
Pois toda a gente o diz
Pelo começo se introduz
Este que na noite profunda se encontra
E a isto o cenário se reduz
Porque pouco mais importa
Conta a lenda há já muito
Que Belo e Grotesca se amaram
Trágico amor funesto
Aquele a que se destinaram
Jamais se deviam ter encontrado
Par estranho junto
Mas de incógnitos esquemas o Fado
Faz decerto o seu conjunto
De longos anos foi a paixão
Que muitos quiseram separar
Ele por ser Belo ao ponto de ilusão
Ela Grotesca, algo de abominar
Mas doce a ironia
De nada possuir grotescamente
Era apenas mais uma mulher nascida
De profunda fealdade ausente
Ele por seu oposto
De comum beleza e fragância
Irradiava qualquer rosto
Devido a pura ignorância
E assim ambos sofreram
Acusações, injúrias e mentiras
Estas que não os demoveram
De fortes mentalidades e filosofias
Nesta história contada
Suposto herói exaltado
Morre de pura velhice mirrada
Com a morte na cama deitado
E ela fica de nome por defender
O ideal e personalidade
Que naquele tempo jamais iriam compreender
Sem enorme ridicularidade
E a moral aqui fica
Por o proíbido se ter amado
O que a sociedade tremendamente implica
Por não querer nada de errado
E este amor trágico chegou ao fim
Sem ninguém o compreender
Triste alma derramada assim
Que acabou por morrer

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Entre Nós


De que havemos falar,
Quando não temos certezas?
Sei de cor as tuas letras
E tu de memória o meu nome
Mas já nada disso basta
Ao termos em mente
Que demos um passo em frente
E assim somos,
Ambos desconhecidos
No nosso mútuo compreendimento
Ao que nada valem os supostos conhecimentos
Tento avaliar essa face visível
Para mais tarde descobrir
A lua invísivel
E assim ficamos
Sem conseguir evoluir
Pois eu penso que alcancei
Todos os tesouros e segredos
Para me fugirem entre os dedos
Perante ti na ilusão
Ou na tua ausência em desilusão
É injusto tal acontecer
Pois eu quero desvendar
Caminhar para o saber
Ler as tuas entrelinhas
Sugar as tuas tonterias
Mas de nada o nada obtemos
E insossos ficamos
Por falta de melhor resposta
Ao que mais ansiamos
Até podemos andar, viajar
Entrar num carro
E ver paisagens até fartar
Que o nosso silêncio permanece
Enquanto a faca não cortar
O que fica quando nada se esclarece
Deixas o que nao deverias deixar
E permites-me imaginar
Se seria diferente
Estas situações superar
És como um íman de mil faces
Envenenando a minha esperança
Atraíndo e afastando
Mas nunca ao teu lado
Definitivamente ficando
Deixas-me confuso
Sem forma de agir
Nem sequer uma ajuda
De como sentir
Podemos talvez desejar
Um dia alcançar
Todas as respostas que procuramos
Mas até lá,
No mesmo ficamos

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Amarras Brancas


Nas vidas que temos
Discutir é o que está a dar
Ora porque não lemos
Ou a vida está a acabar
Mas nestes ciclos sem fim
Onde galinhas de aviário
Encontram-se em secundário
Eu falarei de sóis
Enquanto tu falarás de anzóis
Apesar de não ter sentido
Não percamos o sizo
Assim comecei
E aqui errei
Ao explicar o mesmo
Que já tinhas explicado a mim
Ao mesmo voltamos
Sem que ele tivesse algum fim
Mas como o fim assim será
E para sempre ficará
O mesmo voltará ao mesmo
Porque é o mesmo
Que está para aterrar
E assim o mesmo terá
Pois a si mesmo quis superar
E disto mesmo
No mesmo cairá
Porque daqui saiu
E não fugiu
E em mesma coisa ficamos
Porque nada alcançamos
Tal erro, erro é
Que acaso algum elucidamos
E nisto o mesmo fica
Talvez por birra
Ou mesmo por se apologista
De causas perdidas
Que assim mesmo ficaram
Pois ao abismo destinaram
E em tudo isto
A o mesmo embicaram
Tardando já
O longínquo fim alcançar
O mesmo que anseiam para me calar
Mas aqui mesmo desejo
Que o mesmo todos desejem
Talvez por burrice
Ou com vontade de gralhice
Com enorme afecto
Que de vós mesmo espero
O mesmo que vós esperam de mim
O resumo a todas as partes
Que é apelidado de fim
Mas com o mesmo
Que de certo fartos estão
Delicio-me tanto como no início
Por o mesmo ser a causa
Do vosso hospício

domingo, 12 de agosto de 2007

Retratos


Esta é a história!
Que aqui está para ficar
De dois antigos velhos
Que a voltam ao mundo deram
Voaram em palhinhas
Montados em fuinhas
Nenhum deles sabia o que fazia
Nem tão pouco o que se dizia
Falava-se de loucura
Falava-se de insanidade
E tudo o que eles alegavam
Era pura mentalidade!
Nada disto faz sentido
Mas que pouco importa
Se estamos vivos!
Eram velhos e senis
Solitários loucos que gritam!
De sua companhia solidão
Mais o silêncio de uma multidão
Percorreram o mundo da sua casa
Colecções de uma vida
Foram as rochas encontrar
O fim do mundo e o seu ínicio
Voltas e voltas deram no horizonte!
Na procura do significado de uma vida
Que aí se deixou ficar
Sem que alguém o pudesse alcançar
Se não fossem velhos idosos estes
Estariam presos gritando
Em jaulas sem barras
Pintadas de branco!
Ninguém quer saber
Ninguém houve
A ameaça da pistola de fogo
De um isqueiro velho e sem função
Assim são os nossos velhos
Vão ao farol atirar-se de alturas!
Enquanto cá em baixo estão
Olhando sem perguntas
Tudo isto é loucura e muito mais
Vã a procura de sentido onde não há
Mas existem estes velhos
Tendo tanto de loucura como sanidade
São os mais sábios de qualquer povo
Conscientes da sua verdade
Ninguém acredita neles
É pura insanidade!
De coletes postos e amarrados
Falam de sabedoria difícil de assimilar
Os mais jovens falam com desprezo
Tudo neles é troça e incredibilidade
Que mais tarde irão pagar com insanidade!
É a história de uma vida
E de outras mais:
De anormalidades que são verdades
De mentiras que são sanidades
De loucuras que são normalidades
Esta é a história!
De dois velhos e nada mais
Foram às rochas
Caçar e ser caçados
Para o mar pescar
Os azares de peixes e moluscos seres
Deixando, finalmente, escapar
Triunfante último suspiro
A volta ao mundo acabou
Tal como a insanidade e o martírio!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Xeque - Mate


De chapéu escuro e cara escondida
Abrigado no amâgo daquelas noites frias
Caminhava ele por essa rua
Esguio vulto estranho
Por de baixo de painéis luminosos
Contornando duvidosas esquinas
Insensível a dúbia gente
Iluminado pelo céu estrelado universal
De passo firme e ritmado
Há sua volta existem sons, vida e brilho
Os semáfaros coloridos
Os zumbidos de multidões automóveis
As mulheres de cristal dançantes
E tudo isto e muito mais lhe escapa
Corpo vazio, sem conteúdo
Olhos negros como o abismo
Sem vivacidade ou desejos
Encaminha-se para mais um caminho
Mil vezes antes percorrido
E que outras mil vezes será cumprido
Alheio a tudo e o demais
Copo de água ausente
Não vê para além do cimento a seus pés
Não olha para lá da avenida em que caminha
As ruas não lhe importam
Os ruídos não o pertubam
O vagabundo efeito algum produz
A prostituta não o seduz
A cidade, a noite, o frio
São para ele o mesmo que ele próprio
Ausência de matéria e interesse
Vulgaridade absoluta sem fim
A sua jornada contínua
Infinita como todos os seus dias
Ciclos de começos e finalidades
E, ao seu destino chega
Imponente prédio de inúmeras janelas
Imensidão de estrelas decorando as suas frontes
De chapéu na mão e cara descoberta
Iluminado vulto estranho
Faces brancas iguais a tantas outras
Rosto que nada diz
Mais uma vez no seu escritório se encontra
Perante a sua máquina de escrever
Perante os seus papéis e canetas
Estranho indivíduo sentado
De coração vazio e alma por encher
Interroga-se sobre o que é que há-de de escrever
Os seus sucessos já foram
A sua juventude e imaginação,
Não são mais que um filme agora
E apenas lhe resta reescrever
Histórias tantas já contadas
É um escritor frustrado
Que repete para si vezes sem conta,
Estás acabado!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Avenida Dele Próprio


De noite, bem no escuro
Ele andava por aí.
Era a presença no beco,
O vento que arrepia,
O gás intoxicante,
A sombra fugidía.
Tal contaminação de alma
Que acaba por nos purificar
Piruetas mirabolantes,
De pássaros dançantes.
O vangabundo coberto de poeira
O bêbado vestido de alcoól
O vomitado no chão manchado
Tudo isto ele era
E muito mais se espera
Folhas pulsantes de raros seres
Nauseabundo cheiro de doces perfumes
Nele há luz e vibração
Droga estática que nos consome
Esmalte pingado no balcão
Pintura esborratada de uma mulher sem memória
Em todos nós o sentimos
Intrépidas mãos, frias como o metal
Deseja a vivacidade,
Suga-a com vontade,
E cessa de existir a realidade.
Malvado ser que se esconde no esgoto
Por de trás da esquina observando
Num telhado empoleirado
Atrás de nós vigiando
Ele é o conto, a história e a paixão
Cigarro aceso de fumo apagado
Avé Marias e poligamias
É de um mundo complexo de tudo o mais
Ressureição de vidas estagnadas
Suicídios de bolhas brilhantes
De vitíma escolhida, assassínio marcado
Almas adormecidas, sonos pausados
Ele é o metal, cimento e tijolo
Nele eu viajo, ser extasiado
Os meus olhos observam-o
Néons flurescentes,
Sinais intermitentes,
Viagens intensas,
Janelas imensas,
E os quadros da sua vida
São o êxtase dos seus traços.
Vivos, compassados
Energéticos, drogados
Intensidade de cores e brilho,
É o cubismo, surrealismo, futurismo
Linhas rectas de redondas faces.
Assim ele o é,
O pobre que pede,
O cão que geme,
As prostitutas de saltos
A escuridão de bairros.
Ele o era
E muito mais se espera

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Insónias


Aquelas noites,
De brisas electrificantes
De corpóreos rugidos monumentais
Mágicos luares passados
Tumultos deslavados
Foram assim, finitas noites esplendorosas
Memórias obscuras, desfocadas
Acrescidos sonhos que o foram
Na curta vida existencial, mais um tesouro que naufragou
Diminutos dias estrondosos
Aqueles por que delirei
Viagens a Índias impossíveis a que rumei
Aliciamentos em terras de marfim
É o testamento a que me proponho
Que aqui se encontra descrito
De alegrias e emoções eternas
As tais que desvanecem com o tempo
Sou assim, a testemunha de luzes e sons
Espectáculos mirabolantes dos meus pensamentos
Choros de alegria, gritos de prazer
Irmãos de ocasião
Corações em união
Linguagem universal de fantasias
Sonhos momentaneamente realizados
Posteriormente desfalecendo
Eu e a demais multidão
De gritos em irmãs causas
Cruzados em demanda pela felicidade
As batalhas calmamente travadas
Em excitamento e confusão ordenada
Diferenças onde não existem, semelhanças que diferem
Igualdades de razão
Por breves momentos fomos unos
De esperanças concretizadas
Corações de janelas abertas, puros
Sístoles sincronizadas com ardor
Somos o desespero e a emoção
De o nirvana alcançar
Somos o choro e a alegria
De tal experiência vivida
Quero explodir de sentimento
E bramar aos céus tamanha perfeição
Por breves momentos, nada mais importa que a paixão
Tal apego a incomparáveis tesouros
A capacidade de sentir com tamanha vivacidade
Mas fiquemos por palavras
Aquelas que descrevem a emoção e o sonho
Esses que já vão longe
E com isso teremos de nos contentar
A memória de tais palavras que aqui permanecem
O espectáculo acabou
Os grandes gatos recolhem a suas jaulas
E o sentimento desvanece
O testemunho cai no esquecimento
Mas por breves momentos
Fomos heróis de tempos esquecidos
Irmãos em cruzadas impossíveis
Luzes e sons de paixão irreal
Fomos...Os nossos sonhos e esperanças realizadas
E assim a cortina desce, o circo desaparece

terça-feira, 26 de junho de 2007

Boneca de Porcelana


Sou boneca de porcelana de belos sorrisos
O meu vestido impecável e inocente
Frágil de aspecto e de olhos brilhantes
De porte rígido e elegante
Delicada candura de movimentos
Pequena figura de menina que passa de mão em mão
Louvares e deleites, suaves encantamentos
Sou a dama de branco na bola de cristal
Quebradiço brinquedo de exposição
Ninguém repara na minha agonia
Na timidez da minha aparência
No medo dos imensos olhares que me percorrem
Os meus gritos são silenciosos
Os meus suspiros abafados
Boneca perfeita de porcelana chinesa
No vestido que aperta
Trespaçada por fitantes buracos de arco íris
Quero parar de sorrir, de agradar à plateia
E dia após dia, hora após hora
Novas multidões se acercam
Comentários afáveis, discursos aprazíveis
Finjo, continuadamente, finjo
Este sorriso que esforço
Esta postura que não minha
Na suave tentação de Gepeto
Sei que a minha criação não é por mal
Este que, orgulhosamente, me apresenta
Eu, a sorridente boneca de porcelana
Filas que não o são, centro de comoção
Em rodopios e rodopios de mundo sorrio
Por quanto tempo mais?
Quero voltar a ser a Cinderela sem sapato
Gata Borralheira de cinza
Murmúrios de simpatias, desabafos de descontentamento
Compreendo Gepeto, desejos de contos de fadas
Eternidades morosas, infinitos tempos
Na estante empoeirada cá estou eu
Boneca de Porcelana de belos sorrisos
Frágil de aspecto e de olhos brilhantes
Carênciada de afecto, de excessiva atenção
Chôro de dentro, alegria de fora
Quero um abraço, uma doce emoção
Olhos aterrorizadores de inquisição
Na empoeirada estante que cá estou eu
Os impossíveis labirintos de completar
Sapatos de cristal, estes que possuo
De bom grado dou a quem os quiser
Abóboras e torres, essa maldição
Sou a Cinderela que Gata Borralheira quer ser
Olhos brilhantes de água salgada
Belos sorrisos fingidos
Elegante candura de rígidas vestes
Sou a boneca de porcelana chinesa
A primeira de infidáveis martírios
Inúmeras outras que se seguiram
Multidão de olhos cansados
Da criação de Gepeto fartos
Encontro-me no escuro frio, no pó vazio
Em solidão adormecida
O meu corpo cansado, o meu sorriso desgastado
A minha alma por encher
E o suave cantar do grilo se ouve
Canções de diferentes eras, armários de segredos
Para outros tempos estou guardada
Para outras alturas ser mostrada
Sorridente boneca de porcelana

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Naus e Caravelas


Estou presa em mim mesma
Incapaz de me libertar
Os meus sonhos destroçados por meras sobrevivências
Quero gritar ao mundo
Falar de injustiças!
Mas sou eu a cega, quem não olha a verdades
Enganei-me a mim própria
Mais do que devia
Ó Tágide minha!
Porquê tanta hipocrisia?
Falamos de bem, desejamos o mal
Más línguas falantes, venenos dispersantes
Quero ver, curiosidade felina
O resultado de tamanha epidemia
Luz brilhante de um fogo opaco
Destruição de vidas, apocalipse vindouro
Naufrágios de muita gente, qual Adamastor enfurecido
Não somos mais praia ilustre Lusitana
Meros destroços gloriosos
Fui sonhos e ilusões
Sou despojos e pilhagens
Quero fugir de demónios jocosos
Inúteis gladiadores mortos
Meu pobre, humilde batel
Não sobrevives à tempestade da minha mente
Tais esquerdas racionais, absurdas
Tamanhas direitas criativas, inoportunas
Que é de mim e da minha rota?
A caminho das Índias, América perdida
Afogo-me cada vez mais em incertezas
De que alguma vez conseguirei respirar
Doce Inês de Castro perdeu-se em amores
Lá se foi a sua cabeça!
Perde-se-me o juízo
Lá se vai a minha certeza!
O mundo dá voltas e muitas voltas dá
Mas contínuo sem compreender
Engano-me a mim própria
Mais do que devia
Deixo fugir-me por entre os dedos
Alto lá que é ladrão!
A doce ironia de roubar a minha pessoa
Não me condenem já
Não me mandem para a fogueira
Sou pessoa só mais uma multidão
Inconstância de pensamento e acção
Deitei tudo a perder por caprichos e especiarias
Enconberta da manhã, rasgo branco de esperança
Fugi, de novo, a mim mesma
Enganei-me a mim própria
Mais do que devia
Os sonhos naufragados nessa doce maresia

sábado, 23 de junho de 2007

Fúteis Existências


Inúteis tempos mortos,
Tempos de quem já foi
Tempos de quem é
Tempos de quem será
Momentos angustiantes de existencialidade
Esperamos, longamente, esperamos
Não somos nada mais que nós mesmos, e ainda assim
Algo mais, pertubador
Existências postas à prova
Inutilidades testadas
Divergências, convergências, futillidades
Todos esperamos, absurdamente
Angústia de exércitos de palavras
Desesperantes gritos agudos, no abafado silêncio de alinhamento
Existência vâ, sofrimento oco
Falta-nos a esperança por pouco
Miseráveis queixumes de ninguém
Comparamo-nos a sofrimentos mundiais
Para nada sabermos o que é sofrer
Que é isso, sofrer?
Sofrer realmente como quem já sofreu mágoas e injustiças
Somos ninguém em nenhures
Vacilamos por meras casualidades
Fracos, cruéis, mesquinhos
Mas, esperamosLongamente esperamos
Inúteis tempos mortos, não o deixam de o ser
Sofredores por minímas causas, seremos
Esperamos longamente, por longas horas
Suave martírio moroso, tic-tac
Finalmente acabou
O toque soou

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Amor de perdição


Andava por aí
Sem saber por onde caminhar
Acordava porque era regra
Sem vontades próprias ou desejos
Encontrei-te a ti, a andar por aí
Dia após dia, a mesma programação de rotina
Transparência sem vida
Olhei e tu olhaste, reparei e tu ignoraste
Para ti, só o abismo importava
Aquele em que te encontravas
Preocupei-me, em vão, por ti
Assim ficou escrito, pois tu o disseste
Não queria afogar-me em mágoa
Quis agarrar-me a ti mas não deixaste
Conversas inúteis, passar do tempo dia a dia
Milagre dos céus, que terá acontecido?
Mudaste para mim, o teu olhar aquecido
Subtil mudança de suaves brisas
Ganhei corpo e espírito para ti
O fim da existência de um mero fantasma
Eras a esperança que procurava
Ainda assim, como todas as maravilhas
Existe sempre um mal maior
O meu coração quebrou, parei para ouvir os seus estilhaços
Anjo maldito que há em ti
Não te condeno por sonhos irrealizados
Admiro-te por sinceras palavras
Verdades e coragens pronunciadas em cemitérios silenciosos
Uma promessa para toda a vida
Tornar-me-ia demónio por ti, senão fosses já iluminado
Alusões a tempos dolorosos, mágoas que não foram esquecidas
És o príncipe do passado, rei de areias movediças
Quero terminar esse reino de sofrimento
Elevar-te a um paraíso de felicidade
Utopia impossível, sonho de menina
Alegria de tempos presentes, arrufos de tempos futuros
Andava por aí
À procura do teu jardim
Encontrei-te assim, à procura de uma árvore
Essa que por fim, selaria o pacto para a eternidade
Árvore imortal de tempos infinitos
És o calor do meu coração, chave de um baú sem cadeado
Palavra de algo real
Feitiço de um canção eterna
És o Valete de Copas, eu a Dama de Espadas
Separados por fronteiras, juntos por corações
Pensantes cabeças de igual, espelhos de água um do outro
Um dia desejo, que este sonho que escrevi
Seja a realidade dos meus dias
A moldura, finalmente, preenchida

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Encontros banais

Um dia encontrei-te
Começámos a falar
Eras só incertezas, nem tu próprio sabias o que dizias
Horas esquecidas, conversas que não ouvias
Falava contigo mas parecia que não compreendias
Estás aí?
Respondeste que sim
Afirmaste que te distraíste
Olhar confuso, abstraído
É assim, falar contigo, dialogar com uma árvore balbuciante
Palavras de folhas caídas, tempo perdido
Desabafas o teu coração
Choras o que não tens, deitas a perder o que possuís
És um puzzle de cem peças
Falamos, uma e outra vez mais
Bloquei-os mentais
Voltamos ao mesmo, quantas vezes já?
Não prossegues, não retrocedes
Estamos a falar de quê?
Percebo-te ao mesmo tempo que não
Deixas-me confusa, perplexa
É melhor ir-me embora, há mais que fazer
Pedes para esperar, momentos estagnados
Explicas, uma e outra vez de novo
Tenho um problema, não te acompanho
Mil perdões e desculpas
Falas de vazios e esquecimentos
No entanto, até que é agradável
A cabeça fica leve, por te encontrar
Silêncios, uma e outra vez de seguida
Estávamos a falar?
Já não me recordo
Procuras a perfeição, eu o infinito
Acho que acabou, o cruzar do nosso caminho
Adeus, foi bom poder falar contigo
Até um dia, até mais
Espera, digo eu
Porquê falar de esquecimentos?
Pergunto algo para o qual já sei a resposta
Talvez, penso eu, por querer ouvir de novo
Fingimos que nos importamos
Dizemos que não vamos esquecer
Porém, temos o tempo contra nós
Mudanças de forças imagináveis
Finalmente, o adeus
Digo até breve, mas não acredito
Pronuncias um até amanhã, não é sincero
O nosso tempo acabou, o nosso caminho descruzou
Novos tempos e destinos
Foi bom conhecer-te, foi bom falar contigo
Até logo, meu amigo

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Os Baloiços


O sono já é muito
Suave canção de embalar que me fecha os olhos
Doce infância desejada
Saudade intensa de um alegre tempo
Sou a criança que nunca cresceu
Sou a esperança de um castelo encantado
Adocicado o cheiro de flores frescas
Relembram-me a minha mãe
As tenras carícias do seu colo seguro
Tristezas, pesadelos, noites mal dormidas
Choros infantis de monstros imaginários
Aconchego do meu coração saber que me seguraste
Infância perdida
Sou o tempo gasto a querer crescer
Sou o tempo inútil a querer rejuvenescer
Quando era criança, era alegre
Mas agora, o que sou?
Massa cinzenta abstracta
Obtuso ser complicado
Anseio pela simplecidade de ser
Apanhada, escondida
Estrelas mágicas, ilusões misteriosas
Quem era o homem atrás da minha porta?
Nunca saberei, já cresci, desapareceu
Onde estão as vozes?
Não sei, já cresci, desvaneceram com o tempo
Tento, cada vez mais, em vão, acreditar
Fadas, dragões, sereias, feiticeiros
Jamais vieram procurar-me
Eles que prometeram, que nunca iria crescer
Que sou eu agora?
Cálculo, matéria, relatividade, filosofia
Essência orgânica degradável
Querem que eu envelhaça, lentamente
Consciente da minha própria mortalidade
A tortura eterna
Quero os sonhos que me pertencem, os desejos roubados
A minha infância perdida, oiço-a não muito distante
Mas não é algo mais do que o passado
Momentos esses que se afastam
Estas palavras são o diário do meu envelhecimento
Acréscimos de frases turbulentas
Fui enganada, os meus sonhos apagados, os meus desejos alterados
Quis voar, mas agora quero sobreviver
Não quero ir dormir, não quero iludir-me
A criança que fui desapareceu
Raptaram-me e ninguém me procurou
Sou um capítulo inacabado, mas quero ser a frase inicial
Sou a passageira de uma vida que observo à janela
Vejo crianças a brincar, mas não estou entre elas
Perdi-me e tento encontrar-me, a agonia de não saber onde pertenço
Sei que sou criança, contudo dizem que não
Há muito, que não vejo o homem atrás da porta
Há muito, que não oiço as vozes
Há muito, que cresci
Vim a este mundo para o deixar
Maravilhoso mundo de ilusão
Somente nas lendas referido, poderemos apenas imaginar
O sono já é muito
Por favor, mãe, deixa-me ficar acordada só mais um pouco
Quero ver as estrelas a dançarem
Quero ouvir as árvores a falarem
Quero... Infinitamente sorrir de alegria
Por favor, mãe, só mais esse desejo
E, depois, finalmente cresço