quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Tinha saudades
De mim, do meu tempo
Do sossego perturbado;
Vem alma, funde-te
Sê quem sou, torna-me no possível
Traz-me a voz,
Soa as badaladas.
Parece-me infinita a essência
Mas o prazo é a decadência,
E hoje em morte de um fim
Aconchega-te.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quando Chove

Eu quero saber os porquês,
Mas não - cala-te.
Eu quero e também não.

Não existe um todo
Mas não sei o que é o nada

Se soubesses dizias?
- Porquê?

Distorção;
Distorcido, bloqueado

Serei um dia bom...
Nesta ebulição que me ferve

Um passo atrás
Daquele que me leva à frente

Foi uma desvantagem,
Eu perdi.

Posfácio

Apreendi as horas.

Dá-me um segundo,
Mais uma hora

Tic-tac, tic-tac de novo.
Ecoa vezes sem conta;
Seja uma badalada ou todas elas

Pergunta...
Falta quanto tempo falta
Dez para a eternidade ou...

(Não sei, não sei)

Apreende-se as horas,
E o momento já prende

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tenho dor em mim
E sinto-me sufocar
Já tentei o possível
Cheguei até a implorar.
Não sei mais que fazer
Seja por mim ou por ti;
Quero finalizar este encontro
Não relembrar.
É sempre o mesmo
Dia após dia
Até que o hábito
Acabe com esta minha melancolia.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Droguei-me no desperdício
Para quê?
Ausentei-me de realidades
Para nunca mais ter de voltar.
O corpo mói-me pela falta
Mas a tua ausência ecoa no infinito,
E quando de dois se subtrai um
Quebra-se o gelo e o mar cai,
A morte ficar por chegar.
Foi a limitação,
O vazio de aparência.
Chegaste para nunca mais regressar
E este foi o resultado a concluir:
A escolha a escolher,
Foi ditada desde o princípio.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quero,
Amanhã já não.
São vagas
Que por momentos preenchem-me.
Em secundário
Uma mente que nega.
Não, por favor não
Dores de cabeça
E mais desconforto;
Quando tu e eu discordamos
O que fica em comum acordo?
Se alguma vez aceitar, não é por ti
- Por todos.
Leva o seu tempo até morrer
Um pouco paranóico na verdade.
Se valeu a espera
Sejamos felizes - em segundos.

A minha validade expirou
E tudo o resto quebrou.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Segundos após o fecho

Tenho o ódio entalado na garganta.
(ou será amor?)
Engulo a seco

Boa noite dia
Madrugada ilesa

SILÊNCIO...
Quero ouvir o silêncio.

Cuidado quando,
Quando te amam demais

Caminho devagar
Em direcção à bebida
Não me cura
Ou sequer alivia.

Talvez esqueça...

Os barcos partiram
O significado vazou

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Tinta de papel com asas
Lucinda menina, tacanha;
Mais um cão que se safou
E juntos rumaram a nunca.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Amanhã, depois de ontem
Foi num presente longínquo
Talvez num passado futuro;
Sei que foi incerto - temido,
de solução incompleta
Foi num momento decorrido anos
Não contemplado, ou
tão pouco deliberado.

Ficou ausente,

ausente

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Jogador


Vadio mais que todos.

Juntos aqui
afastados a anos luz.

São jogos
Falsetes
Dores de cabeça

Não há paciência
Só sal a mais.

Rasga,
Rasga mais uma vez
A mente, o corpo
- O espírito santo

Não dura, não perdura
- A raiva

Enublou, enjoou
E foi pena não ter acabado.

Vegetei, fiquei de coma

A calma,
não veio quando esperava.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Não quero, ser


Sinto-me explodir


Há garras, que me cortam a carne
Magoam.
Rasgam

- destróiem quem sou;
Pouco a pouco a essência vai-se,
Deixo de ser quem me amou

terça-feira, 29 de julho de 2008

Relógios


Beijem-me com ardor

Que não tenho fôlego.

Só há negro e rasgos de branco;
Devias ouvir quando tudo é preto...

Não é fantasia ou animal
É só o ar que me canta,

As árvores murmuram
Choram o cinzento nocturno

Os peixes repousam:
Fervilham na sua solidão

Estou enternecido
Pelo dormir da noite,
Os suspiros do tão pouco que há

A noite nos meus braços
Não vai querer despertar
Ela é minha,
Apenas para eu admirar

Os lagos de vinho moribundo
Qual gentio gato evita,
Inundam-me o coração
- levito eternamente.

Deitei-me no seu leito
Dormi.

Embalei a noite,
Fugi para longe.

domingo, 20 de julho de 2008

Bright Lights


Parado.

Vejo histórias que se desenrolam
Por janelas intensas,
Repetições de tantas outras
- o metro descolou

O vinho já não basta
Ele próprio acabou
- sustenho o ar

Os encontrões em sucessões
- oscilo na invisibilidade à repugnância
Ninguém me espera.

Foi verde e veio o tinto
Rasca como a minha pele;
As folhas voaram para longe
Eu sou tudo o que ficou.

Acabou o sentido do alcóol
Da vida ou das beatas;
Resta-me o asco
Tão sentido pela minha mãe

Saltei,
E apartir daí foi tudo brilhante

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sem tinta na voz


Falta tudo...

De tudo,
Praticamente inexistente.

Vazio.

Não há sentido
Selou-se lentamente;
Pouco escorre ou nada sai
Gotas de futilidade

Dói-me a voz, não a alma
Presa no momento
Presa cada vez mais;
O dano físico que me recalca.

Falta o arranjo,
O conserto ausente;
A existência existe
Mas eu, não a sinto

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Menina moça


As saias que rodam

Sem sequer parar
Permanecem rodadas
Excepto para a minha destoar
E moça dança,
Dança sem parar.
Provoca-me o ciúme
Irradia-me a frustração:
As cores de raiva consomem-me.
E ela sorri,
Roda cada vez mais
Deslumbra todos com o seu olhar

Tudo pára - o sossego.
Quebrei a roda
Sai do tempo

terça-feira, 8 de julho de 2008


É morte

Não percebo
Sufocado por entre a enclausura
Um breu mais negro que todos os outros.
Tic-tac, Tic-Tac
As ruelas do tempo
Companheiros calcetados
Íngremes avenidas sem elevação
Quero puder...
Ver mais do que este espectro,
Mas dizem-me que não.
Sinto-me agitadamente inactivo
Inúteis tempos mortos
Escravidão a uma liberdade que nos consome;
Sou fechado...em mim
Estou condenado
Rastejando em terra
Por entre lágrimas
- As minhas ou de outros
E já não são ruas
Mas paredes que me engolem
Como olhos brancos pintados,
De um mal maior que me devora
Esperneio por uma vida que não me compete.
Caio
-Numa queda mais intensa
Não ha fim ou tão pouco começo
Apenas o contínuo momento.
Um golpe
E outro de novo
Um a um os sinto,
Espancado por todos os sentimentos
A verdade tão inimiga
Ou a mentira que oculta,
Até mesmo o ódio que se enfurece
Cada um deles tem o seu juízo.
A morte nesta minha vida
A alma não resiste
Vegetal coma de esperança;
Não há regresso
E a partida foi esquecida.
Suplico;
Mais um homem que o gato mordeu
Pela neve
Sem destino ou abrigo
Candeeiros fundidos
Vergastadas de malícia.

Era so mais uma noite
Inocente e ignorante crespúsculo;
As cores brotam de mim
- E eu sorri

sábado, 21 de junho de 2008


De trapos feita

Pela maré febril da vida,
Escrevi estas palavras
Somente para as riscar

Pronomes, verbos
Talvez alguns nomes;
Cessei por completo a sua existência

A tinta que fora
Escritos que não o são.
Terão um céu para estarem tão sós!

De espírito deposto na cidade,
Em todos os segundos já mortas

As frases aqui compostas
As demais e outras poucas
Retirando cada um do seu espaço
Pelo que significa ou representa,
Nenhuma encanta
Nem tão pouco me seduz

Seja o escritor que perdeu o brilho
Ou a escrita sem alma
Tudo se presente deslocado
Quando o poeta,
Não é poeta para ele próprio

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cowboys Jazz


Senhor não me obrigue
Tenha algum dó,
Não me martirize!
Faltei aos prometidos
Não cumpri os prazos,
Roubei-lhe o tempo
A caneta e o papel
- Não dei conta de tal!

Piedade!
É assim que lhe chamam.
Acredite que não foi por mal,
A inspiração ainda não chegou
Está só um pouco atrasada;
Eu vou conseguir. Por si,
Acabarei as cartas
E a caneta é tão bela...
Oh!O papel tão caro

Tem que compreender
Foram os violinos do diabo,
Sussurrando ao meu ouvido
Palavra, atrás de palavra
Olhe as folhas!
Todas esborratadas,
Vede, eu acabei
Todas as suas cartas!

Fui em frente com a promessa,
Só uma semana atrasado.
Sim foi a inspiração,
Apanhou o comboio errado!
E o diabo pobre coitado,
Obrigou-me a escrever
Veja lá, acelerado.

Compreenda senhor,
Eu ainda sou o seu escritor;
Não o era para enganar
E o que roubei,
Agora devolvo.
Olhe, olhe!
Todas as suas cartas:
Poemas, contos, folhetos de amor.

Não me tome por louco
Dê-me o pão de hoje!
Estou só um pouco nervoso,
As insónias têm-me acometido.
Tudo por si...
Oh!Não me queime na praça
Deixai os meus papéis!
Leia, leia!
É tudo para si.

A loucura persegue-me
Febril febre do dia,
O coração esvai-se em tinta
Já não sou mais poeta.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Bairro Alto Groove


Corpos flutuando
Qual água de cristal.

Foi lento, tudo muito lento...
Não havia perdão em nós.
Os tecidos roçagando
Os sapatos que deslizavam
Voltas e voltas sem retorno,
A intensidade consumida;
O adeus das despedidas.

Fui inocente ao relembrar
Tola por ainda acreditar
As memórias não chegam
E a devassidão já é velha;
Quero sorver de novo a juventude
Oh! Quão ingénua.
Julgava ter em mim
Aquele esplendor
Tomara-me por eterna.

Já não há perdão,
Nem tão pouco havia
Resta-me a luxúria,
Lembranças de espectáculo

Para a longevidade,
Até ao fim dos pensamentos
Sou bailarina de sangue,
Aclamada.
Vem até mim,
Uma última vez
Põe a tocar a roda dos tormentos
Dançar, talvez, até...
Não haver mais fôlego.

Deu-se à corda do gramaphone,
Hoje...
A noite canta.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Candelabros de Bolso


Naquele comboio de esperança
Rasguei o coração,
Vagão meio aberto
O acidente que foi notícia.

De ouvidos fechados
Cérebro por explodir,
Sinto-me presa
Vejo-me oca
Cambaleando ferozmente
Como luna-ática baloiçando;
Tactei-o porcaria
Cheiro pudor.
Queria desejar libertar-me
Assegurar um final feliz
Mas tudo é escuro...
Negro de desilusão.
As caixas que me comprimem
Cubículo, acima de cubículo
Descida, sobre descida
Enterrada para os vivos
Morta em suspiros;
Valerá a pena
Ter esperança no que for?
Dia após dia em prisão.

Pianos, contrabaixos e guitarras
Sons de sabedoria
Sons de fim
Sons do amanhã,
A manhã que tarda a vir
Ou que nunca virá.
Um, dois ou três relâmpagos
Chuva na cara que não molha
Cheiros que não chegam;
Eu e tu,
Tu e eu,
Nós os dois e mais um:
Somos tantos
Somos nenhuns,
Almas de muitos
Nas catacumbas de reis.
Pego no meu leve corpo
Levo-me mais além
Suja, comprometida
Por histórias sombrias;
De farrapos esfarrapada
Em espera,
D'um pêndulo que tarda a contar
As últimas certezas
Mais umas quantas tonturas.
Basta de amor
Deixemos para mais tarde
Suposto turpor que te atinge.

Dá-me um final por mim
Empresta-me algum abrigo,
Não cortes a pouca vida que há
Gémea alma inoportuna.
O sadismo em ti tão sádico
Perturba-me os fios já tão desgastados;
Em meu vil, sereno canto
Compromete-te com distância

domingo, 11 de maio de 2008

Zaratustra falou


Acoçado por isto
Reacções por que me tormentam
Reza o dia em que tudo fuja
E o cálice envenenado estala
Escorre-me o calafrio pelo corpo
Ah - ocorre a espera
Infinitamente tudo será
Seja a minha vida que escurece
Ou o brilho que me fecha o ar
O mundo que foge da minha consciência
E mal consigo parar
Corre, e tudo corre
Avalanche de licores visíveis
Momentos que foram vertidos
Ensurdecedores sons sorridentes
A loucura que trespassa celestialmente
Imaculada raiva doutrina
Vai uma, duas, três de seguida
Hoje há dogmas, amanhâ...
Talvez acabe o dia
Tenho um gato como fachada
Esguio e melindroso
Dá-me o leite porque anseio
O sopro que me rouba o suspiro
Dá-me a faca mais uma vez
Permite-me rasgar o mal
Corta uma, duas, três de seguida
Acalma a ebulição que me ferve

Manhã, gloriosa noite
Beija o mar
E chora-lhe o salgado

Grita-se a esses longos,
Grandes fiordes - deuses de gelo
E quebra-se além o ar

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Naoko


Gosto de desenhar palavras
Sejam grandes ou pequenas
De esplendor,
Ou de inaúdito brilho

Aqueles borrões
Contendo salpicos
Sarapintaram a minha alma
Sem dó ou piedade

Eu sei que escreverei as linhas
E irei esborratar as caras
Insinuar os tons por que me apaixonei

Vou perder-me nas folhas
Desorientar-me nos números
Tenho que parar - sim parar!

Inspira o cheiro
Desenha até mais não

quinta-feira, 1 de maio de 2008


Flor, flora
Formiga
Árvore, folha
Botão
Um irmão que joga à bola
Uma prima que brinca com o João

Saias que rodam
Copos que partem
Conversas faladas
Pomares de ideias maduras

Bibes sujos
Edifícos por limpar
Bêbados de rua
Meretrizes por beijar

Corpos fingidos
Males a chorar
Mortes em funerais
Folhas por varrer

Ventos que se arrastam
Baloiços a enferrujar
Mamíferos que se amam
Botas a chiar

Exércitos que marcham
Saltatrizes baloiçando
O gato que dorme
E o João que chora

quarta-feira, 23 de abril de 2008


Hmm
Hn
Ou pois,
São todos silêncios sussurados

Podia dizer que me enervas
Mas muito me dás nojo

Eu falo, tu não
A vantagem é minha

Tu tens amigos, eu não
Afinal o destino é sádico

Corto a pele às minhas palavras
Existem sons compadecentes

Mas a verdade é uma
Eu odeio-te e abomino
É o meu discurso em suma

quarta-feira, 16 de abril de 2008


Tenho um grito por gritar
Como uma voz para falar
Não sei como, nem porquê
Mas sinto-me bem no silêncio

Tenho pernas para andar
Como braços para abraçar
Não quero saber, nem perceber
Mas prefiro ficar bem sossegado

Tenho cérebro para pensar
Como uma alma para avaliar
Não me interessa, nem me incomóda
Mas sabe-me melhor ignorar

E acabando a despejar
Desejo querer matar
Não é engano ou mentira
Simplesmente encontro-me indiferente

sexta-feira, 11 de abril de 2008


O povo português

Muito amável e sentido
Em surdina todos gritam:
- Viva o rei perdido!

No ano de 2091
Muito à frente de qualquer compreensão
Volta na sua nau,
O bom rei D. Sebastião

Muito chora e abomina.
O seu amado, esse
Há já muito tinha ido

Entre as lágrimas que derramam
Ainda não compreendeu
Está noutro tempo
Numa diferente dimensão

Pessoa rebola na campa
Com tristeza a afogar
Ainda não viu o rei
Imagem santa por adorar

Quando mais tarde percebeu
Franzino rei D. Sebastião
Quedou-se de tal forma amargo
Que de imediato faleceu

quarta-feira, 2 de abril de 2008


Não tenho palavras para sair
Nem tão pouco inspiração
Estou tão seca como uma fonte pode estar
Uma que jorra
E brota ainda assim
Mas que de fresca
Pouco tem para dar

Não há necessidade de mentir
Mais vale acreditar
Que definitivamente estou acabada
Pronta para desistir do meu ar

quarta-feira, 26 de março de 2008

O hélio do ar


A noite vai lenta
E o dia demora a chegar

Em pequenos sopros arde a lareira
E a cor dos teus olhos desvanecem;
São curtos os movimentos do relógio

Sopra-se um cabelo do teu olhar
E pede-se um beijo,
Prece nunca atendida

Tens tal fogo nunca pensado.
Quis parar
Dizer que é cedo
Recordar para a eternidade
Perder este meu medo

Vou deitar o meu espírito
Pousar este desperdício
Tenho mil e uma febres
E nenhuma por acalmar

Tal tempo,
Que tanto tempo demora a passar
É o meu borrão
A mancha que me corta o ar

Mas com os sons nos tímpanos
E cristais por conta de olhos,
Dou-te a faca
Para finalmente tudo afugentares

segunda-feira, 24 de março de 2008


De pedra no sapato,
Andei
Corri
Cheirei
Ouvi

Electricidade no corpo
A estática que senti
Pelos corpos que passava
Os encontrões que não contava

Tinha um todo em mim
E eu num todo
Seja a cores ou a cinzento
A ressaca era tremenda

Olhei quem não me via,
Mais algumas cores
Os tais edificios sujos
Imóveis num papel para sempre

Quis gritar, estava rouca
Quis ver, mas havia nevoeiro
Quis correr, acabei por tropeçar

Sou cega, surda e muda
Tal como tu e o resto do mundo
De pouco me serve a medicação
Se a realidade não me ajuda

domingo, 23 de março de 2008

Se sussurares não oiço


Pronuncia os sons!
O mais alto que puderes

Furei
Furei
É verdade que furei

Escava
Escava
Tentas, mas não consegues

Eu procuro por ti
Tu escorregas sem parar

Minhoca da cidade
Tela de perversidade
Capa de alumínio
Protecção desmedida
Sol da meia noite
Suor de brasa gélida

Em stops cortados
Há espera de sinais
Boas novas em falta
Ou uma tortura já mencionada

Fala-me ao ouvido
Sê meiga por favor
Toma conta de mim
Preenche-me o vazio

sábado, 22 de março de 2008

Für Elise


Pára!
Mais não
Não quero,
Não!

Estou cansada
Dói tanto;
O que tu me obrigas
Estou reduzida a este pranto!

Malvado ser sorridente!
A tua consciência pouco se importa
Só te preocupas em dar à corda!

Banal saltatriz dançante
De alma magoada
E perna quebrada

Toca e toca sem parar
Nem mais um minuto vou aguentar
Melodia (crack, crack)
Tenho uma perna para amputar

Chega-te perto,
Vamos dançar.

sexta-feira, 21 de março de 2008

A vodka era Russa


Estás a ver-me?
Não estás não
Consigo olhar?
Porque não?

Tenhos dois pés, amputados
Duas mãos, para o transfiguradas
E um peito deformado

Alegrias - doce vinho barato

Tenho alma, pudor
E um desejo a concretizar
Mendigo da cidade banal
Invisível homem a conspirar

Vou pegar fogo - a ti
Irei encontrar - a tua morada
Perseguir-te-ei até ao fim
E só por me teres visto a mim

Já vai longa a vida
E sou louco
Dá-me éther
Fica mais um pouco

quinta-feira, 20 de março de 2008

Crónicas de vento


Dá-me água
E algum pão
Preenche-me de vida
Deixa-me falecer em ilusão

O chão é branco
Talvez cinzento
É bonito, agora que o vejo
Mas nada de grande emoção

Tive que sorrir
Era o trabalho
Recebi dinheiro
Ainda que vá morrer aqui

Sou uno com o elemento
Perfeito para meditar
Pequeno toque de inveja
Nada me dá alento

Morre - dizes tu
Falece de uma vez!
Sopra a vida e vai agora

Ponto final parágrafo

quarta-feira, 19 de março de 2008

Conto de Fadas


Pequeno Gambuzino amarelo
Tinha um problema de luz
Nasceu terrivelmente enfermo
Não tinha corpo que lhe fizesse juz

Pobre chavalo sem asas
Era o que muitos o chamavam
Mais valia ser peixe e não nadar
Do que luzir sem voar

E nos seus 24 dias
Nenhum foi aproveitado
Seguiu-se um, dois e três
E o céu sentiu-se rejeitado

Não houve loucura
Nem tão pouco cópula insana
Era mais um aleijado,
Um pobre coitado

terça-feira, 18 de março de 2008

Quando Kafka Voou


Um dia tive um gato
Guardado num bolso por aí
Focou-se no desejo
De um dia voar.

Tinha pena do bichinho
Porque lixada era a gravidade
Tal era a atracção
Que só restava cair

Muitas noites chorou
E entre soluçoes engasgou
Ainda tentei demovê-lo
Mas era demasiado pequeno
De jovem não lhe serviu o pepino
E morreu para sonhar
A meio da queda
Os cristais olhos quebraram

Não valia a pena desejar
Ele nunca mais iria cantar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Silêncio do Piano


Este é mais um conto
Daqueles que ouvi contar
O mais engraçado de tal aspecto
É que eu sou o objecto em concreto

Havia uma parede
E nela emolduraram-me
Por três dias berrei
E ao quarto desesperei

Talvez ouviram-me
Por entre lágrimas derramadas
Mas o que mais dói
São as suas palavras

Falam em desaparecida
Rapariga morta
E no fim de contas
Sou torturada e eles idiotas

Estou viva, para morrer
Tudo debaixo dos seus narizes
Estou prestes a enloquecer

E no meu último suspiro
Não sei para que penso
Ao menos encontra-me, dá-me descanso

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Fuga das Ideias


Numa praça
Um tanto para o esquisita
Existiam para lá muitos gatos
Mais o seu pastor incerto

Coisas banais estes faziam
Como miar bem alto
Correr sem destino
Ou chatear o seu dono sem tino

E por isto que eu dizia
Decidiram escavar a minha cabeça
Não queria ligar ao que se fazia
Mas muito ia doer decerto

Queria dizer que não morri
Mas da mente tiraram-me todo o afecto
Tanto pior se fossem choques
A verdade é que os gatos já não se chegam perto

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Quando a Lâmpada Funde


Entrei devagar,
E de muito mansinho
A cidade estava deserta
Apenas se ouvia o murmurar do cimento
O rio parou,
Queria escutar também
O esgosto deixou de funcionar
E os animais que ficaram
Eram de pedra mais dura que os edifícios.
Por entre o pó acumulado
Os passos que seguia
Um após o outro,
Ecoavam por entre as ruelas
Assim foi a entrada:
Um pouco para o torto.
Olhei para o céu
Tinha esperança
Do quê, não me lembro
Mas tudo o que sei é que era cinzento.
Procurei um interruptor
De pouco me serviu
Este facto era certo
Se nem tomadas havia.
Senti-me estranho
Na pele de outrém;
Seria mais uma barata
Estéreotipo reles
Sobrevivente de um apocalipse?

Abri os olhos,
Tão depressa quanto podia
Banhado em suor
Queria dizer que tinha companhia
Mas a cama,
Essa era só minha;
Boa noite pesadelo
E respiração acelarada
Tomei um comprimido
Pensei controlar a insónia que me assombrava

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O grito do Circo


A dor existe
Não sei porque dói
Pode parecer ignorância
Mas muito me mói

Já gritei
E muito berrei
Poucos ouviram
Ou tudo fingiram

Esperneei no chão
Debati-me que nem cão
Mas sendo um gato
De pouco serve-me o facto

Num canto quedada
De garganta cortada
Cego os olhos do mundo
Mais os seus ouvidos mudos

Ah! Em mim tenho montanhas
E é como se tivesse pouco
Nos campos feitas as colheitas
Tudo o que ficou foi oco.

Era uma vez um acordeão


Em todos os contos
Que começam por era uma vez,
Um, dois e outros mais
Contos para todos e demais
O meu não difere de tal tradição.
Com isto presente,
E bem consciente
Era uma vez,
Pequena Injúria
Grande sombra sem dúvida
Poderia andar, correr ou dançar
Que ao meu lado acabaria por ficar
Mas de uma habituação feita
A minha alma já não está insatisfeita.
Mas não se enganem, é verdade
A Injúria é uma realidade
E nesta estranha sala
Onde o silêncio e insanidade
Juntos se encontram com fervor
Um pequeno Peixe dourado
Gira e torna a girar
E tudo isto a respirar;
Pouca importância tem
Pois para vós nada desperta
A não ser desejos de bandeja.
Mas velho Dumas cinzento
Na sua campa contorcendo
Vociferando injúrias
Pois tantos dias para a volta ao mundo
Pequeno dourado leva um minuto
Pobre cabeça a minha
Já não é o que era
Pelo menos sempre me dizem
E outra coisa não se espera,
Perdoem-me a confusão
E esta ilusão.
Ela, Injúria
Ri-se da minha figura
Mas preso de boca e corpo
Resta-me apenas o pensamento
E na situação em que me encontro
Não tenho defesa
Nem tão pouco possibilidade
Acreditem em mim
Na minha peculiar existência
Vejo desenganos e mentiras
E com nada posso lutar
É tudo culpa dela!
Injusta Injúria que me persegue.
E no meio disto tudo,
Oiço alto o acordeão
Pois estou num Hospital Psiquiátrico

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Os Mal Amados da Sociedade


Tenho a certeza,
Até certa medida
De pequenas coisas a outras mais.
Neste dia de suposta paixão
Que a muitos encanta,
Tamanha ilusão pegada,
Mete nojo e muito me farta!
De queixumes a choros
Muitos corações quebrados,
Mais os sem abrigo gelados;
Calem-se! Não quero ouvir lamúrias,
Pouco mais acusações ou injúrias
Neste dia de falta de romance
Pura lavagem comercial.

E extintos para lá do tempo
Nobres romancistas perdidos,
Góticos e obscuros
De amores impossíveis:
Mulheres de láudano suicidas,
Aquiles Homens que choram.
São precisos dois séculos de tempo
Para que eterna mudança se verifique
O amor não vem mais da alma,
Mas de um coração de esferovite.

Não chores, chiu.
És um chapéu perdido
Num sotão para sempre comprometido;
E em folhas lilases,
Num enterro chamado funeral:
Era uma vez tuas plumas,
E o amor morreu.

Não cantes, não dances
O amor faleceu

As flores murcham,
Os chocolates azedam
O beijo não acontece,
E o teu cavaleiro parte
À busca de outra donzela
Aquela que para o ano espera.

Não te enganes mais,
É gato sim senhor
E não tem botas;
Rossa por entre as tuas pernas
Enquanto procuras a carta ausente:
Abres o peito e lentamente despertas
Dor, paixão, absurdo.
Temos um dia de divídas
E uma alma confusa
Paga a quem deves,
Pois o barco não te espera.

Chiu, vamos dormir
A noite vai longa
E o amor não veio
Bem feita, faz-te bem!
Fica à espera,
Como quem não tem vintém
Aguarda e morre de uma vez,
Pois apenas assim
Curas-te de tanta malvadez.
E num dia de anjos,
Vira costas a tudo,
Aprende comigo e ganha juízo.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Pequenos Contos


Naquele momento eu vi.
O terror percorreu-me;
Foste devorada,
Engolida por massas.
Procurei inúmeras vezes por ti,
Mas tudo em vão
E apenas senti tristeza.
E as assassinas, nuvens de escuridão
Após o teu nascimento
Cobriram o teu corpo:
Triste e brilhante,
Belo quarto minguante.
E assim foi:
Todo o céu negro chorou,
A luz evaporou
E a cidade triste ficou.
Adeus lua, até amanhã
Cuida de ti, encandescente pagã.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Um Conto às Nuvens


Menina de Branco, és tu?
Por entre pensamentos
Pensei ouvir-te,
Passeando em memórias
Serpenteando por mistérios.
Sim, Menina de Branco
Quero lembrar-me:
Os risos, as brincadeiras
As tais confidências
Só a ti pronunciadas.
Ah, Menina de Branco
A minha mais profunda amiga;
Amizade que surge da alma,
Dos confins do meu ser.
Quantas vezes questiono,
Onde estarás?
Diz-me, não tenhas medo
A culpa foi minha, da minha infância?
Amei-te como irmã, como amiga
Delicioso amor de rapariga.
E, contudo crescemos
Mas eu nao queria!
Desejava a eternidade ao teu lado
A tua presença, o perfume adocicado
E aqueles imortais dias,
Suaves brisas de Fevereiro
Onde só tu e eu,
Nos deliciavamos uma à outra;
Os contos, o sol, o mar
A paixão de se inocente
.Porque fugiste de mim?
Juro que não foi por mal
Se soubesses o quanto peço,
De novo infantilidade, pureza
Tudo menos maturidade.
Sim, Menina de Branco
Perdoa-me a dor, os dias de escuridão
Mas por ti, não irei chorar
Só quero o sentimento de união.
Menina de Branco,
Eras tão bonita:
De lábios cheios e rosados,
Pele branca e suave;
Ah, o teu cabelo cor de fogo
Incendiava-me por dentro
E quando sorrias,
As tuas sardas eram o céu estrelado.
Tudo em ti grita perfeição
Tal descrita em imaginação.
E o teu olhar ao cair em mim,
Dois botões de verde claro
Faziam-me voar para longe.
Queria voltar a ver-te
Menia de Branco,
Confessar o meu amor
Pedir-te perdão.
E irás para sempre ser,
Um dia chuvoso de Fevereiro:
De frio suave e tépido calor,
Com nuvens desgarradas,
E de um sol sem pudor.
Menina de Branco, por favor
Desculpa ter crescido
Perdoa-me ter esquecido
Mas agora estou em paz;
A Menina de Branco que desapareceu
De grande imaginaçao,
Eras tu Peggy Sue
A menina do meu coração.

Sonata à Ópera


A minha mente,
Salta, salta sem parar
Para o teu lado ir quedar.

Já tentei,
Até gritei!
Mas para sempre quer ficar

Amor profundo em ti
De vontades incontroláveis
E assim escrevi,
Girando em pensamentos indomáveis.

És o esqueleto
O assombro de perfeição
E tocamos em dueto,
O esplendor da nossa paixão.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Idem


Multidões,
Pontos ocos de vontades.
Mal vêem, mal sentem:
Frutos de um passado,
Maduros de um presente,
Podres de um futuro incerto.
Multidões,
Que vês tu nelas?
És de um amor inexistente
Calor enregelado.
E eu grito numa dor sufocante
Ausência de pudor em ti
Sou torre observante,
Qual fantasma intermitente;
Sou bússola sem valor
Compasso de uma vida, pendulo hesitante.
Uma pessoa e mais a sua gente:
Encontros, safanões
Desesperos e procuras
Vacinas de tempos,
Curas imperfeitas;
De corações moles, bruscos
Macilentos e viscosos
Multidões de adjectivos que procuram:
Estradas sem fim,
Caminhos imperfeitos,
Ilusões injuriadas.
Quero o sol e lua,
O universo rasurado
Sim, multidões
Entre elas, sem elas
Alegorias fantásticas!
Imperfeitas visões
Receptáculo defeituoso,
Orgão desfeito
Identidade perdida e, assim sou
Homem corrompido pela solidão
Amargura doente
Multidões,
Seres que nada me dizem.
Amores, almas bolorentas
És um ponto,
Nada mais que isso
Sem conteúdo ou concha;
Tu mais uma multidão
O centro do nada
Fria, imutável, resplandecente
És o grito de todos os teus filhos
Mãe de crimes e inocências
És a vida que odeio,
Transparência que abomino
De cinzento profundo,
Saudável colorido.
Boa noite, cidade
Bem vinda ao meu mundo

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

À Beira-Mar


Estou dividida
E para sempre indecisa.
Vivo em opostos
Para a eternidade enloquecida
Quero bradar silêncios
Como gritos murmurar
Em opostos concebida;
Em meia perfeição jamais percebida
Sou o copo por encher
A água a transbordar
Não sei que faça de minha quietude
Se para sempre quero viajar
Sou louco sem tino
Ajuízada por demais
Quero o meu canto saudar
Entre multidões vociferar
Alma, fantasma, vislumbre
Ser atormentado entre água e fogo
Senhor Peixes ouve,
Leão Senhor fala.
Escuto ondas, vagas de memória
Sou incandescente, futura erupção
Incontrolável coisa indomável
Esquizofrenia de vida!
Morte e vida por fases
Morre ele, vive ela;
Suicída-se ela, renasce ele.
Copos constantes
Fogos fátuos intermitentes
Vivo de opostos
Razões sem lógica:
Dócil gato medroso,
Eriçado felino astuto.
Tenho luas por agir
Mentes por conseguir
Mulher, homem
Homem, mulher
Quem é quem,
E quem virá?
Sou doido desvairado
Confusa temerária
Sou sentido de impossibilidade
Equação sem solução
De espera a calma,
Caos por advir
Gritemos profundos silêncios
Clamar sanidade!
Vivo da cidade,
Do campo e mentalidade
Quero saber as verdades
Quem é quem,
E quem serei!
Calma ou desvario,
Lógica ou ambiguidade?
Entres peças que encaixam
Há mais sobras que vontades
Um Dó Li Tá,
Serei livre ou fico como está?
Um dia governarei o mundo
E serei um ser só
Opostos deixarei de ter
E a minha vida cessa de o ser
Em vida e morte, um e outro
Apenas um dia se saberá
Em fúnebre funeral funesto
Qual prevalecerá

sábado, 10 de novembro de 2007

Hemisférios


De passagem na travessa,
Puta de vida esta!
Somos esquizofrénicos constantes,
Temos o mundo em instantes!

Perdida de amores
Por almas proibidas
Choro em profundos clamores
Para caras perdidas.

Falo de surrealismos,
Ninguém me entende.
Atiro-me para abismos,
Suicídio valente!

Todos os dias sou mágoa,
Felicidade e fantasia.
Tal copo sem água;
Falta-me calor e a tua companhia.

Crio mundos,
Vómitos de palavras!
Vivo para absurdos,
Mortes por meias facas.

Desejo sonhos por clamar
A tua presença para amar
Irrealidades bucólicas
Estes fados por desejar.

Sou homem incerto,
De comportamento incompleto;
Altivo e distante,
Verdadeiro gelo cortante.

Oportunidade vãs vivi,
Loucuras, paixões suplicantes
Nestas palavras me perdi;
Graças a suspiros distantes.

Sou corpo, vómito e cadáver
Hilariante lixo de cidade;
Vítima de fama e crueldade,
Olho com desdém a realidade!

E em tempos amada;
Por entre ruas de metal e frio,
Criei esperanças no vazio
Na espera da tua chegada.

Em barcos redondos vou,
Preso por entre terras;
Assobio e já cá estou
Louco às avessas!

Quis manter-te em presença,
Ser louca como tu.
Estamos os dois em desavença,
Pois falta-te amor e subtileza.

De meu nome Pierre,
Conjunto de palavras em espirítos
Alma de loucura e desvarios,
Alguma vez jamais visto!

Leonor suspeita,
De teus gritos farta.
Um pouco de juízo desejo
Este amor de prejuízo basta!

Conversas de pouca dura
Confrontações constantes
Somos dois num espaço só,
Para sempre unidos por um nó.

sábado, 27 de outubro de 2007

Aleluias


Já eram alturas de viver,
De amar e de sofrer!
Quero abrir portas,
Horizontes salutar,
Quero ir e voltar,
Correr e dançar!
Ver luas de gente,
Navegar mares diferentes.
Quero voar e cantar,
Sentir e saudar!
Ser e desejar liberade,
A pura realidade!
Vem comigo, vem até mim,
Vamos à Cidade Perdida,
Rir, festejar, extasiar.
Vem amigo, imaginar até fartar,
Rodopiar uma e outra vez mais!
Ver chuva cintilante,
Banho de água fria cortante,
Pura chama ardente,
De alma berrante!
Chorar dor e perfeição,
Rir alegria e aberração.
Vamos sorver palavras
E entornar as quadras!
Viver é ser louco e excêntrico ser,
Mas agora, chiu!
Pára para olhar.
Sentados de calmos risos,
A fitar parede branca esta;
Que infinito mais não é,
Do que a soma de vários riscos!
Vejo o futuro, presente e passado
Os Dragões que fugiram,
Os Monges que mugiam,
O Gato que aplaudia,
A possilidade e refutabilidade.
Vá, não me olhes assim,
Ri-te por favor!
Dá alegria por seres,
Afinal somos arte e paixão,
Lixo e podridão!
Orgulha-te e ergue-te,
Sê quem não finges ser!
Olha à tua volta e escuta,
Procuras-te em vão,
E nem querer te desejas!
Anda comigo e vem,
Vamos ao circo, abre a porta!
Dá os passos do teu caminho,
Assobia comigo,
Vamos ver o fim enquanto podemos!
Mexe-te, mais rápido!
Corre e tapa os ouvidos,
Ensurcedor silêncio enclausurante!
Acabou-se o tempo.
Vou voar sem ti,
Cantar como ninguém,
Dançar feliz,
Amar até ao além!
Sem desculpas e remorsos,
Eu vivi!
Sou louco desvairado,
Estou louco, desenfreado!
Tenho-me a mim, a ti e a mais ninguém
Fora multidão e meia ,
Que pouco mais tem de plateia.