segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Era uma vez um acordeão


Em todos os contos
Que começam por era uma vez,
Um, dois e outros mais
Contos para todos e demais
O meu não difere de tal tradição.
Com isto presente,
E bem consciente
Era uma vez,
Pequena Injúria
Grande sombra sem dúvida
Poderia andar, correr ou dançar
Que ao meu lado acabaria por ficar
Mas de uma habituação feita
A minha alma já não está insatisfeita.
Mas não se enganem, é verdade
A Injúria é uma realidade
E nesta estranha sala
Onde o silêncio e insanidade
Juntos se encontram com fervor
Um pequeno Peixe dourado
Gira e torna a girar
E tudo isto a respirar;
Pouca importância tem
Pois para vós nada desperta
A não ser desejos de bandeja.
Mas velho Dumas cinzento
Na sua campa contorcendo
Vociferando injúrias
Pois tantos dias para a volta ao mundo
Pequeno dourado leva um minuto
Pobre cabeça a minha
Já não é o que era
Pelo menos sempre me dizem
E outra coisa não se espera,
Perdoem-me a confusão
E esta ilusão.
Ela, Injúria
Ri-se da minha figura
Mas preso de boca e corpo
Resta-me apenas o pensamento
E na situação em que me encontro
Não tenho defesa
Nem tão pouco possibilidade
Acreditem em mim
Na minha peculiar existência
Vejo desenganos e mentiras
E com nada posso lutar
É tudo culpa dela!
Injusta Injúria que me persegue.
E no meio disto tudo,
Oiço alto o acordeão
Pois estou num Hospital Psiquiátrico

4 comentários:

Expresso Oriente disse...

Gostei da conotação do "era uma vez" com a "Injúria", já que a última mais não é que uma "história" composta por muitos pontos ("quem conta um conto acrescenta um ponto"), resultado de uma má tradição (ou será mau hábito?) de uma sociedade que vive cada vez mais de enganos, falsidades, aparências e inveja.

Relembra-me uma história ou anedota (humor negro ou mau humor...) que falava de um povo que ao ver uma bela casa ao lado da sua não pensaca "vou fazer uma igual ou melhor" mas sim: "a tua casa é melhor q a minha? vou destruí-la!". Ou uma outra história de alguém a quem apareceu um génio que lhe concedeu um desejo, chamando-lhe a atenção para o facto o seu vizinho receber a dobrar tudo o que ele pedisse; o desejo foi "ficar sem um olho"...

GOstei da construção e do conteúdo. No entanto, ao chegar ao final senti que faltava algo, ficou incompleto...

P.S.: Tb começo a achar q preciso de internar...

Anónimo disse...

Talvez tenha ficado a história incompleta para outra altura. Talvez quando pense numa instituição mental pense em algo incompleto, com um fim que nunca chega ou mal construído e tal ideia deve ter ficado vinculada no meu pensamento que passou para o papel.
Acho que todos nós temos essa necessidade.

Expresso Oriente disse...

Olha, gostei ainda + da tua explicação para o final. Tinha-me passado ao lado. Faz muito sentido. Perfeito! 5*

Anónimo disse...

Acho que vou ter que massacrar um pouco. Concordo imenso com a Leonor de que a perfeição não exista, mas isso muito me sabe bem ao ego.