quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Os Mal Amados da Sociedade


Tenho a certeza,
Até certa medida
De pequenas coisas a outras mais.
Neste dia de suposta paixão
Que a muitos encanta,
Tamanha ilusão pegada,
Mete nojo e muito me farta!
De queixumes a choros
Muitos corações quebrados,
Mais os sem abrigo gelados;
Calem-se! Não quero ouvir lamúrias,
Pouco mais acusações ou injúrias
Neste dia de falta de romance
Pura lavagem comercial.

E extintos para lá do tempo
Nobres romancistas perdidos,
Góticos e obscuros
De amores impossíveis:
Mulheres de láudano suicidas,
Aquiles Homens que choram.
São precisos dois séculos de tempo
Para que eterna mudança se verifique
O amor não vem mais da alma,
Mas de um coração de esferovite.

Não chores, chiu.
És um chapéu perdido
Num sotão para sempre comprometido;
E em folhas lilases,
Num enterro chamado funeral:
Era uma vez tuas plumas,
E o amor morreu.

Não cantes, não dances
O amor faleceu

As flores murcham,
Os chocolates azedam
O beijo não acontece,
E o teu cavaleiro parte
À busca de outra donzela
Aquela que para o ano espera.

Não te enganes mais,
É gato sim senhor
E não tem botas;
Rossa por entre as tuas pernas
Enquanto procuras a carta ausente:
Abres o peito e lentamente despertas
Dor, paixão, absurdo.
Temos um dia de divídas
E uma alma confusa
Paga a quem deves,
Pois o barco não te espera.

Chiu, vamos dormir
A noite vai longa
E o amor não veio
Bem feita, faz-te bem!
Fica à espera,
Como quem não tem vintém
Aguarda e morre de uma vez,
Pois apenas assim
Curas-te de tanta malvadez.
E num dia de anjos,
Vira costas a tudo,
Aprende comigo e ganha juízo.

12 comentários:

Leonor disse...

Pediste mais e aqui me inspirei. Penso que aqui diz o que penso deste dia, de tal modo que me saiu fragmentado, poema nervoso. Agora sou eu que digo que estou à tua espera, e do teu escrito. Tens que me acalmar com as tuas viagens.
Combinado?

Expresso Oriente disse...

Olha... tiraste-me as palavras do coração. Com nervoso e fragmentos e tudo. É essa mesma a minha opinião!

[q rimas tão mal "enjorcadas"]

Prometo escrever uma viagem só para ti mas o comboio só sairá lá para o fim do mês... até lá o trabalho rouba-me todo o tempo [vir-te ler são minutos que roubo ao trabalho]

Ana P. disse...

Palavras sábias. O Poema diz tudo.
Sempre achei o 14 de Fevereiro o dia menos romântico do ano. Pode ser muita coisa, mas romântico não é... Só encanta a tolos e futéis. Tenho pena dos que se lamentam, tenho pena por ver que este dia lhes diz tanto. É bom sentir que se é amado, mas é todos os meses e não apenas em fevereiro. Mas "vamos dormir"! Pode ser que uma boa noite de sono até corações fragmentados consiga curar.

*

Leonor disse...

Eu vou-te cobrar a minha viagem, não me esqueço. E outra coisa, eu não sei o que quer dizer enjorcada.

Expresso Oriente disse...

eheheh, por isso coloquei entre aspas. não sei se é 1 expressão coloquial se é mesmo regional. quer dizer muito mal arranjada.
cobra, cobra...
hj estou tão COMPLETELY OUT OF MYSELF q fiz uma coisas tb mt "mal enjorcada" lá p os comboios... reflexo do meu estado mental (e físico)... nunca mais é dia 20... (ou melhor, nc + é maio q é qd me pagam este trabalho...)

bem... isto hj está mau mas tenho q voltar ao trabalho...

bom fds p ti, leonor. q o aproveites, pelo menos, melhor q eu (bem diz 1 gd amigo meu q me estou sp a queixar)

Vitor disse...

já ganhei juízo....mas o amor não morre.... apenas reaparece... revive....

beijo

Leonor disse...

Sim, de tão fragmentado que ficou saiu tudo mal enjorcado como dizes é verdade. Em alturas que vêm tudo à cabeça de uma só vez, sai coisas assim.
E de Fevereiro até Maio vai muito tempo ainda. E dos queixumes todos nós os temos. boa sorte para o trabalho.
Abraço

Expresso Oriente disse...

Que se passa em Maio???
OH, rapariga! o mal enjorcado não era o teu texto, mas as minhas rimas!!! AiAiAi. Isso vai lindo vai...

*12 to go... (yessssssss!)

Leonor disse...

Tu disseste que nunca mais era maio. Nós as duas andamos numa confusão pegada é o que é.

Anónimo disse...

Se ganhar juízo mata o amor, prefiro seguir a estrada da insanidade rebelde.

Senti um aperto ao ler este poema "nervoso": primeiro, concordo com a "comercialidade" do dia 14; depois, custa-me sentir essa ligação da morte ao amor.

(uma eterna apaixonada e viva!)



P.S.: Não sei se estou a deturpar completamente a interpretação deste poema, mas é tarde e o cansaço musical é enorme.

Leonor disse...

Cada um tem a sua interpretação do poema, e não deixa de estar correcta ou errada. Mas para mim, este suposto dia em vez de sublinhar o amor mata-o. Mata a essência que é realmente amar ou gostar de outrém seja a que nível for, porque dá-se e entender que amor é algo que se compra e vende em vez de algo que surge e mantém-se espontaneamente. Aqui não trato de romance ou paixão. Falo também daqueles que neste dia sozinhos passam sonhando com amor que querem receber e comprar. Acho que é principalmente isso, a minha visão.

Expresso Oriente disse...

concordo plenamente com a tua visão, leonor.

e tens razão: andamos todas trocadas... eu, pessoalmente, acho q estou a enlouquecer...