segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Quando a Lâmpada Funde


Entrei devagar,
E de muito mansinho
A cidade estava deserta
Apenas se ouvia o murmurar do cimento
O rio parou,
Queria escutar também
O esgosto deixou de funcionar
E os animais que ficaram
Eram de pedra mais dura que os edifícios.
Por entre o pó acumulado
Os passos que seguia
Um após o outro,
Ecoavam por entre as ruelas
Assim foi a entrada:
Um pouco para o torto.
Olhei para o céu
Tinha esperança
Do quê, não me lembro
Mas tudo o que sei é que era cinzento.
Procurei um interruptor
De pouco me serviu
Este facto era certo
Se nem tomadas havia.
Senti-me estranho
Na pele de outrém;
Seria mais uma barata
Estéreotipo reles
Sobrevivente de um apocalipse?

Abri os olhos,
Tão depressa quanto podia
Banhado em suor
Queria dizer que tinha companhia
Mas a cama,
Essa era só minha;
Boa noite pesadelo
E respiração acelarada
Tomei um comprimido
Pensei controlar a insónia que me assombrava

4 comentários:

Expresso Oriente disse...

Tem graça, Pierre, como os teus poemas terminam sempre de forma abrupta, em aberto, com um sentido de continuidade, de que há mais que ficou coberto e escondido nas trevas do pano negro do blog.
Gostei da presença esmagadora e bem focada do cimento e da pedra da cidade, que abafa.
Obrigada :) [estava mm a precisar depois do Prós e Contras de ontem e a realidade que me esfregaram na cara de forma nua, crua e, cm tal, insensível... acho que tb devo ter tido 1 pesadelo...]

Anónimo disse...

Acho que à alturas mais que outras que nos sentimos subterrados por situações. E não penso que acabe tudo de forma abrupta, apenas é algo que não acaba. É assim a realidade. Depois do pesadelo tentamos lutar contra uma insónia que não desaparece. A nossa mente continua a pensar, a funcionar e a não nos dar descanso. Queremos desligar e o processo continua e sem nunca abrandar. E não há nada que agradecer, simplesmente vi o apelo depois de já ter escrito.

Expresso Oriente disse...

mais uma vez me passou ao lado a ligação perfeita entre forma e conteúdo... é um pesadelo, acordamos sobressaltados dele... assim termina... de forma sobressaltada...

estou a perder qualidades.

Anónimo disse...

Não é perder qualidades, simplesmente não tiveste a interpretação que eu tive. Afinal eu escrevi com um objectivo. A minha visão final foi aquela.