sexta-feira, 13 de julho de 2007

Avenida Dele Próprio


De noite, bem no escuro
Ele andava por aí.
Era a presença no beco,
O vento que arrepia,
O gás intoxicante,
A sombra fugidía.
Tal contaminação de alma
Que acaba por nos purificar
Piruetas mirabolantes,
De pássaros dançantes.
O vangabundo coberto de poeira
O bêbado vestido de alcoól
O vomitado no chão manchado
Tudo isto ele era
E muito mais se espera
Folhas pulsantes de raros seres
Nauseabundo cheiro de doces perfumes
Nele há luz e vibração
Droga estática que nos consome
Esmalte pingado no balcão
Pintura esborratada de uma mulher sem memória
Em todos nós o sentimos
Intrépidas mãos, frias como o metal
Deseja a vivacidade,
Suga-a com vontade,
E cessa de existir a realidade.
Malvado ser que se esconde no esgoto
Por de trás da esquina observando
Num telhado empoleirado
Atrás de nós vigiando
Ele é o conto, a história e a paixão
Cigarro aceso de fumo apagado
Avé Marias e poligamias
É de um mundo complexo de tudo o mais
Ressureição de vidas estagnadas
Suicídios de bolhas brilhantes
De vitíma escolhida, assassínio marcado
Almas adormecidas, sonos pausados
Ele é o metal, cimento e tijolo
Nele eu viajo, ser extasiado
Os meus olhos observam-o
Néons flurescentes,
Sinais intermitentes,
Viagens intensas,
Janelas imensas,
E os quadros da sua vida
São o êxtase dos seus traços.
Vivos, compassados
Energéticos, drogados
Intensidade de cores e brilho,
É o cubismo, surrealismo, futurismo
Linhas rectas de redondas faces.
Assim ele o é,
O pobre que pede,
O cão que geme,
As prostitutas de saltos
A escuridão de bairros.
Ele o era
E muito mais se espera

9 comentários:

zetrolha disse...

Extâse...um texto fruto de uma relação entre a metáfora e a hiperbole.
Continua minha Cesariny.

Leonor disse...

Acho que é a primeira vez que leio um comentario vindo de ti proximo ao elogio. Tenho a dizer-te que estou estupefacta.

R disse...

Conseguir a ordem com um poema fragmentado em que as coisas nos saltam à vista em catadupa é de valor.

JoãoFerreira disse...

Isto parece uma confusão com algumas ideias organizadas mas está giro...Gostei.

Leonor disse...

Uma confusão? Mas não é suposto ser organizado também, ou completamente organizado.

zetrolha disse...

Mas estás estupefactada de ódio ou de carinho?

Leonor disse...

Por carinho. Vamos lá ver, és sempre de língua venenosa a falar sobre algo. Daí estar estupfacta

Anónimo disse...

To make a Dadaist poem:

Take a newspaper.
Take a pair of scissors.
Choose an article as long as you are planning to make your poem.
Cut out the article.
Then cut out each of the words that make up this article and put them in a bag.
Shake it gently.
Then take out the scraps one after the other in the order in which they left the bag.
Copy conscientiously.
The poem will be like you.
And here are you a writer, infinitely original and endowed with a sensibility that is charming though beyond the understanding of the vulgar.
Good Old Cat said

Expresso Oriente disse...

tirando o senhor da "confusão" já todos disseram o q eu penso, com grande destaque para o comentário do zé. Este foi o poema teu que mais gostei. Nota-se uma evolução se comparado com os primeiros.