segunda-feira, 18 de junho de 2007

Cisnes


Fantasma de gritos abafados
Sorrisos que ninguém vê
Olhares desajeitados, fingimento absurdo
Essencialmente existo, desconhecimento de ausência
Rasto apagado, a luz fundida do sol
Sou assim um pássaro que se recusou a migrar
Afluência de banalidades, migrações sociais
Múrmurio das folhas do meu jardim
Árvore minha, poiso meu
Fiquei para o Inverno, quis ver a fonte gelar
Olham através de mim, para além do meu paraíso secreto
As minhas infinitas cores por definir
Para trás fiquei
Os meus gritos são múrmurios
Pássaro migratório solitário
Todas as estações têm o seu esplendor
Ignorância padecida
O meu jardim é silencioso, a estação da morte aproxima-se
Para trás fiquei
Aberração de cores
Sou o fantasma que ninguém vê
A minha fonte é cristalina, o meu sossego precioso
Esperança de cisne, fado de desilusão
Os eleitos da jornada retrocedem no tempo
O Verão desejado de um tempo finito
Ouvidos moucos não ouvem, esses que são todos iguais
Sozinha no meu jardim, solidão momentanea
Raridades do Jardim Selvagem
Há cantos no meu paraíso
Poucos que ficaram, cantares de maravilhas
O Inverno não é só o adormecer
Nem tudo é o que parece
Esplendor de cores, rejubilação do meu jardim
Carvões de diamantes
Vozes ouvidas, confissões secretas
Fantasmas translúcidos, assombrações de outros desiguais
Transparência ignorada, inúteis migrações
Vôo alto,para os confins do meu paraíso
Cisnes de diamantes, arco-íris de emoçôes
Sou essência para quem me vê
Alegria do tesouro apreciado
Migrações porquê?
Falsos olhos que coisa alguma vêem
Olham paredes, alusões a um nada concreto
Escolhi ficar, num jardim que é o meu
De quimeras absurdas afastei-me
Procuro o meu caminho
Sussuram palavras que oiço
Eu grito silêncios mudos
Aterradores monstros que não o são
Imaginações verdadeiras
Rouquidão desnecessária, alma opaca

4 comentários:

Expresso Oriente disse...

Encerram-se aqui tantos sentidos que nem sei o que dizer. Fiquei presa ao texto, onde entrei e de onde não quis sair.
Parabéns. Gostei muito.

Expresso Oriente disse...

"Falsos olhos que coisa alguma vêem
(..)
Escolhi ficar, num jardim que é o meu
De quimeras absurdas afastei-me
Procuro o meu caminho
Sussurram palavras que oiço
Eu grito silêncios mudos
Aterradores monstros que não o são"

Reli-te e vesti-me destas palavras (ou será que me despi?). Identifiquei-me.

Leonor disse...

Ainda bem que gostaste. Essas palavras são uma delícia. Acho que uma pessoa cobre-se com palavras e não se despe delas. Apenas a minha opinião

Expresso Oriente disse...

Não, não era isso o que queria dizer. Quando me refiro a vestir-despir, referia-me ao facto de nos pormos a nu, de largamos os artificios, as máscaras, aquilo que usamos para nos escondermos ou aos nossos sentimos e nos mostrarmos, nos tornarmos muitas vezes vulneraveis por estarmos tão descobertos. O cobrir de palavras significa que nos preenchem, que nos vestem do que realmente importa e não do que é artificial como as roupas.